Folha de S. Paulo


Beltrame diz que ataque a UPP é 'terrorismo' e não descarta 'ações desagradáveis'

Após a operação que ocupou a favela Vila Kennedy, em Bangu (zona oeste do Rio), na manhã desta quinta (13), em preparação para a instalação da 38ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que a recente série de ataques criminosos a UPPs já instaladas é um ato de "terrorismo" - seis PMs lotados em unidades pacificadoras já foram mortos neste ano, metade deles nos complexos do Alemão e da Penha.

"Nós entendemos que estas ações são um verdadeiro terrorismo contra o Estado, contra agentes públicos, contra policiais civis e militares que estão trabalhando para retirar pessoas que estão tiranizadas", disse o secretário, em entrevista coletiva. "Se outras instituições não entendem assim, nós entendemos, e estamos nos preparando para tratar o assunto dessa forma. É mais uma ação tirana, covarde, do tráfico de drogas, que se vê com seu espaço diminuído."

Segundo Beltrame, além da ocupação na Vila Kennedy e da operação na vizinha Vila Aliança, que resultou em troca de tiros entre PMs do Bope e traficantes que fugiram para lá, outras 22 operações estão sendo realizadas hoje.

"Não vou ser leviano de dizer às pessoas que não vamos ter ações tristes e desagradáveis nesse processo", afirmou Beltrame. Questionado sobre o que quis dizer com "tristes e desagradáveis", o secretário deu como exemplo "tiros, coisas com que o Rio convive há 30 anos e ninguém nunca fez nada".

O secretário afirmou que, apesar dos ataques nas UPPs já instaladas, é importante dar continuidade ao processo de instalação de novas unidades –segundo o plano original, serão 40. "Mesmo com problemas, já deixamos essas comunidades ocupadas muito melhores do que elas já eram. Essa população não tinha resultados concretos como têm hoje. Não são os melhores, mas hoje o Rio conta com uma política de segurança transparente e palatável. Agora, em função desse abandondo, estamos longe do ideal. Mas existe um avanço e, se ele parar, será uma perda para a cidade."

Apesar de 10 PMs terem morrido em áreas com UPPs nos cinco anos desde o início do projeto – mais da metade deles neste ano –, Beltrame diz que o programa não está ameaçado.

"Falar em ameaça ao programa é exagero. Estamos com alguns problemas em duas áreas, que são as mais populosas [Rocinha e Alemão]. Não temos problemas em 38 UPPs, mas em duas que ultrapassam 100 mil habitantes. São problemas difíceis de resolver por causa da topografia e por causa da tirania do tráfico, que age com terror à medida que se vê ameaçado. Nosso programa é ousado, entramos em verdadeiras megalópoles do crime."

Beltrame também acusou certo descaso da imprensa e da sociedade com os ataques a PMs, fazendo uma comparação com a atenção dedicada à greve dos garis. "Tenho responsabilidade sobre esses policiais, não queremos e não vamos admitir que policiais continuem morrendo. Muito embora na última quinta-feira tenhamos perdido dois policiais e a pauta da cidade tenha sido a falta de coleta de lixo."


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