Abalado pela morte do filho, esfaqueado em uma festa dentro do campus da Unicamp, em Campinas (SP), Celso Casagrande disse que ainda é "muito difícil" aceitar a "barbaridade que fizeram".
Denis Papa Casagrande, 21, foi morto com uma facada por volta das 3h30 de sábado (21), em uma festa no teatro de arena da universidade. O estudante de engenharia de controle e automação da instituição chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu ao ferimento.
Suspeita confessa ter matado estudante da Unicamp, diz polícia
"Ainda estamos um pouco anestesiados. É muito difícil", disse Celso à Folha. "A gente ainda não retomou a vida. Até de comer a gente se esquece porque fica pensando nessa barbaridade."
Casagrande e a mulher, Maria de Lurdes Papa Casagrande, foram de Piracicaba a Campinas nesta terça-feira (24), onde participaram de um ato na Unicamp em homenagem a Denis. Celso também prestou depoimento ao delegado que apura o caso.
Mais cedo, a Secretaria de Segurança Pública do Estado informou que uma suspeita ouvida na delegacia na noite de segunda-feira (23) confessou o crime alegando legítima defesa.
Maria Teresa Alexandrino Pelegrino, 20, depôs e saiu sem falar com a imprensa, cobrindo o rosto. Seu namorado, que a acompanhava, afirmou que ela se defendeu.
"Foi legítima defesa. O cara tentou agarrá-la à força e bateu nela", afirmou o atendente Anderson Mamede, 20, que chegou a se ferir na confusão na festa. "Infelizmente ele [Denis] morreu e não está aqui para poder comprovar nada."
Reprodução/Facebook | ||
O estudante Denis Casagrande foi morto, neste sábado (21), em uma festa dentro do campus da Unicamp, em Campinas (SP) |
"GANGUE"
"A gente sabe que ele [Denis] jamais faria isso", afirmou Celso. "O delegado me disse que a Maria Teresa assumiu a culpa, mas não foi só ela. Há mais responsáveis. O assassino é quem desferiu a facada, mas houve a participação de outras pessoas. E não foi só um ou dois, foram vários. Era uma gangue", disse o pai do estudante.
Segundo um amigo que morava com o estudante, um grupo de jovens o atacou. "Bateram até com um skate", disse o rapaz, que pediu para não ser identificado. Posteriormente, Mamede confirmou ter agredido Denis com um skate.
"É terrível. É cruel. Não tem motivo para fazer uma coisa dessas ", disse Celso.
A secretaria informou que a Polícia Civil busca imagens das câmeras de segurança da universidade e deve ouvir amigos da vítima que estavam no local do crime para confirmar a versão apresentada pela suspeita e concluir o inquérito policial.
AUTORIZAÇÃO
A Unicamp decretou ontem luto oficial de três dias e informou, em nota, que lamenta a morte do estudante e se solidariza com sua família. Segundo a instituição, não havia autorização para a realização da festa.
Estudantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da universidade, órgão que organizou o ato em homenagem a Denis, afirmam que as festas ocorrem todas as semanas no campus e a administração faz "vista grossa". "Não dá para a reitoria lavar as mãos e fingir que as festas não acontecem", disse Bruno Modesto, estudante de ciências sociais e um dos coordenadores do DCE.
A Folha procurou a Unicamp para questionar a entidade sobre a realização de festas sem autorização no campus, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
"Não tem mais o que fazer para trazer o Denis de volta, mas eles têm de tomar mais cuidado com esse tipo de festa", disse o pai de Denis. "Os jovens têm o direito de se divertir. O certo seria ter a festa, mas com uma seriedade maior das autoridades. Não é a proibição que vai resolver."