Folha de S. Paulo


Bombeiros 'resgatam' vestidos em loja ao lado de desabamento em SP

Bombeiros que trabalham nos escombros do prédio que desabou anteontem em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, fizeram ontem um resgate diferente. As "vítimas" eram vestidos.

Depois de ter a loja de venda e aluguel de roupas de festas interditada pela Defesa Civil por causa do desabamento, a comerciante Neli Mendes Franco, 62, pediu um "favorzinho" ao Corpo de Bombeiros: que resgatasse 32 trajes que serão usadas em duas festas marcadas para o próximo fim de semana.

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Vestidos de festa eram a maior parte deles. Às 10h, dois bombeiros entraram pela janela da sala do imóvel interditado. "No meio de tanta tragédia, a gente conseguiu salvar um sonho", disse um deles, que não se identificou.

NOIVOS

De acordo com Neli, os trajes serão para uma noiva, um noivo, oito madrinhas, duas floristas, uma noivinha e debutantes.

"Os clientes já estão me ligando preocupados com a as roupas", disse Neli.

Ainda de acordo com ela, as peças ainda precisam de ajustes antes de ser entregues aos clientes.

A comerciante contou que ainda não havia chegado à loja no momento da tragédia que deixou ao menos oito mortos e 26 feridos.

"Só consegui vir hoje para resgatar os vestidos", contou.

Até a conclusão desta edição, outros dois imóveis afetados pelo desabamento do prédio em construção em São Miguel Paulista permaneciam interditados.

Ainda não há informações sobre as causas da tragédia. Mais cedo, em entrevista à Folha, o pintor Gleisson Feitosa, disse que a estrutura da obra "estava fraca". De acordo com o funcionário, que estava no momento da acidente, o fato já havia sido avisado aos responsáveis pela obra que "pediam para continuar".

ACIDENTE

A queda do prédio deixou oito pessoas mortas, 26 feridas e duas desaparecidas, que ainda estão sendo procuradas. O capitão Marcos Palumbo, do Corpo de Bombeiros, disse durante a tarde de hoje que acha difícil encontrar pessoas vivas no local.

O advogado Edilson Carlos dos Santos, que representa o dono do prédio, Mustafa Abdallah Mustafa, afirmou que modificações feitas por uma empresa de engenharia depois que o galpão já havia sido entregue à rede de lojas Torra Torra podem ter causado o acidente.

Segundo Santos, a obra foi entregue em julho para a Torra Torra, que alugou o imóvel para fazer uma nova unidade. Ele diz que funcionários da empresa Salvatta Engenharia teriam feito escavações no terreno. A empresa, sempre segundo o advogado, estava fazendo alterações para a instalação de elevadores e escadas.

Já a Salvatta Engenharia disse em nota ter sido vítima "da irresponsabilidade dos proprietários" do imóvel. A nota também é assinada pelo Magazine Torra Torra, que contratou a empresa.

De acordo com o texto do Torra Torra e da Salvatta, a responsabilidade pela construção foi do dono do prédio. "As chaves do imóvel ainda não foram entregues pelo proprietário, porque as obras a que se obrigou não foram concluídas. Também não houve a entrega do Alvará de Construção e nem do Projeto Executivo", diz trecho da nota.

Editoria de arte/Folhapress
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