Folha de S. Paulo


Ministra critica atuação da polícia no desaparecimento de Amarildo

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) criticou a atuação da polícia no caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43. Ele está desaparecido desde o último dia 14, após ser abordado por policiais militares na Rocinha, no Rio. Ele virou símbolo de manifestações no Rio de Janeiro e também em São Paulo.

"Nos preocupa sobremaneira a abordagem policial e o posterior desaparecimento. Toda a investigação e o inquérito sobre o desaparecimento devem ser feito com hipótese clara e concreta de que seja uma responsabilidade dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual nós não podemos conviver", disse Rosário. "A primeira suspeição que todos nós devemos ter é de responsabilidade pública também nesses desaparecimentos."

Rosário disse que "a polícia, nessa história toda, tem que ser o mocinho". "Ela tem que estar junto com as pessoas da comunidade. Ela não pode abordar um trabalhador e esse trabalhador desaparecer.

Segundo ela, a Secretaria de Direitos Humanos se mostrou à disposição do governo fluminense para acompanhar investigações. Disse também que o ministério tem conversado com autoridades locais e recebido informações sobre o caso.

Família de Amarildo diz acreditar que pedreiro já está morto

Amarildo, morador da favela da Rocinha, do Rio de Janeiro, desapareceu em 14 de julho, às 19h20, após quatro recrutas da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha o abordarem diante de casa e o levarem para a sede da unidade, no alto da favela.

Os PMs pensavam que o pedreiro era o traficante Guinho, com mandado de prisão expedido pela Justiça. Na véspera, 48 pessoas foram presas sob suspeita de tráfico de drogas na Rocinha.

Questionada se o desaparecimento de Amarildo expõe uma eventual falência do processo de pacificação das favelas do Rio, a ministra negou. Disse que o fato "demonstra que sempre temos que melhorar".

"Demonstra que mesmo em comunidades pacificadas nós devemos procurar construir uma cultura de polícia que esteja próxima da comunidade"

"Nós não podemos jogar fora as experiências que temos de pacificação. Agora, devemos ler essa situação como aquela condição em que as comunidades devem estar livres da ação do tráfico e poderem confiar plenamente em sua polícia. Talvez numa situação como essa a gente dê alguns passos atrás, mas vamos continuar valorizando todas as tentativas de superar nas polícias a violência, constituí-las como grupos efetivos para cumprir a lei", completou a ministra.


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