Folha de S. Paulo


MEC cria comissão de federais para discutir programa 'Mais Médicos'

Uma comissão com representantes das universidades federais foi criada nesta terça-feira (16) para debater as mudanças sugeridas pelo programa "Mais médicos", lançado semana passada pelo governo federal.

A iniciativa permite a entrada de médicos com diploma estrangeiro --sem necessidade de revalidar o documento no país-- para atuar por um determinado período em áreas onde hoje há carência de profissionais. A medida provisória que trata do assunto prevê ainda a criação de um ciclo adicional no curso de medicina.

Reunidos no Ministério da Educação na tarde de hoje, reitores e coordenadores do curso de medicina ouviram um detalhamento do programa dos ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde). Na semana passada, entidades médicas e congressistas reclamaram não terem sido ouvidos na elaboração do programa. Ao final do encontro, Mercadante afirmou que as mudanças foram bem recebidas pelas federais.

"Eles vão trabalhar junto com o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e também no debate do Congresso Nacional pra gente aprimorar, recolher subsídios, para avançar nessas propostas em relação às iniciativas que o governo da presidenta Dilma está tomando na área", disse o ministro.

A comissão criada hoje conta com 11 representantes das federais --entre elas, estão, por exemplo, a Unifesp (Universidade Federal de São paulo), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e UFC (Universidade Federal do Ceará).

Mercadante destacou ainda que há tempo para discutir o assunto. As mudanças sugeridas para o curso de medicina somente terão efeito para os ingressantes na graduação em 2015. De acordo com a medida provisória, esses estudantes deverão atuar dois anos no SUS (Sistema Único de Saúde) após os atuais seis anos de graduação.

"Isso só será implantado em 2021. Temos sete anos para amadurecer a implantação. (...)Da última vez, quando passamos de um ano de internato para dois anos, esse debate começou em 93 e terminou em 2001. Foi um debate longo para conseguir avançar na estrutura curricular", disse.

Depois, no Palácio do Planalto, antes de audiência com a presidente Dilma Rousseff, Mercadante comparou as críticas ao Mais Médicos às críticas sofridas quando do anúncio do Prouni (programa de bolsas de estudo do governo federal), do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e da política de cotas em universidades.

O ministro insinuou que os ataques ao projeto partem de uma parcela mais favorecida da classe médica. "Chamo a atenção para vocês, a pergunta que eu deixo: por que é que no Fies [programa de financiamento estudantil do governo], que tem 24 mil estudantes de medicina hoje, eles vão ficar oito anos trabalhando no SUS para pagar, e ninguém criticou? Querem a resposta? Porque são estudantes de medicina pobres, ninguém criticou. Ninguém questionou", disse Mercadante.

No entanto, quando questionado se há preconceito por parte dos médicos ricos ao programa, disse: "Espero que não, acho que vão ter uma grande experiência de vida trabalhando no SUS. É um sistema generoso, solidário, poucos países do mundo têm um sistema de saúde tão amplo. Agora para ter um sistema como esse precisa de mais médicos para atender a população. Temos um sistema muito generoso, a saúde é um direito de todos, e acho que esse valor todo médico tem de ter".

Mercadante disse ainda que o governo "não abre mão de oferecer mais médicos para a população", mas, quando questionado se os dois anos de serviço no SUS após os atuais seis anos de graduação eram inegociáveis, disse que "a palavra final quem tem é o Congresso Nacional".


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