Folha de S. Paulo


Alvo de spray de pimenta da PM foi presa arbitrariamente, diz OAB

A estudante Liv Oliveira, 23, que apareceu na capa do "The New York Times" como alvo de spray de pimenta no rosto lançado por um policial militar no Rio, foi presa, indiciada por formação de quadrilha e liberada após pagamento de R$ 3.000 de fiança.

Ela, no entanto, foi detida quando andava sozinha na praça 15, centro do Rio, sem qualquer material para depredação. A OAB considera a prisão de Liv e das demais 24 pessoas arbitrárias.

Jornais europeus analisam protestos; "NYT" mostra PM jogando spray
Justiça libera estudantes presos após manifestação no Rio
'Ele achou que era o dia dele', diz delegado sobre jovem que apedrejou Prefeitura de SP

"Os policiais foram para cima dela e falaram: 'Volta, volta'. Ela questionou a ordem e não teve mais conversa. Levantou o spray e atacou ela. Foi rápido. Ela não esperava, ninguém esperava", disse o fotógrafo argentino Victor Caivano, da Associated Press, autor da imagem publicada na capa do jornal norte-americano.

O ataque ocorreu por volta das 23h20, cerca de cinco minutos após o Batalhão do Choque chegar e dispersar os manifestantes que depredavam o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio. A situação já estava controlada no local.

Segundo o advogado João Oliveira, irmão de Liv, ela foi ao protesto com amigos, mas se perdeu do grupo no momento da chegada dos policiais. O advogado Raul Lins e Silva, que acompanhou seu caso na delegacia, disse que ela estava em direção ao mergulhão da praça 15 em busca de um táxi para voltar para casa, na zona sul do Rio.

"As pessoas foram escolhidas aleatoriamente na rua. Eles pegaram um grupo heterogêneo, sem nenhuma relação entre si, e alegaram que estavam em quadrilha depredando. O fato de ninguém se conhecer prova que não há o menor cabimento nessa afirmação", disse João.

Segundo ele, Liv não lembra de detalhes do momento do ataque e da prisão. Ela saiu da delegacia no início da manhã de terça-feira, acompanhada do pai e do irmão.

Entre as dez pessoas indiciadas por formação de quadrilha, há diversos estudantes, um agente penitenciário e até morador de rua. Na análise da OAB do Rio, a polícia prendeu de forma arbitrárias pessoas não envolvidas na depredação da Alerj.

"Não atendemos nenhum manifestante envolvido em atos de violência. Todos os que contaram com o suporte da OAB-RJ foram detidos sob alegações falsas, como um grupo que não se conhecida e foi acusado de formação de quadrilha. A impressão nítida é que a PM quis 'dar o troco'", disse o advogado Marcelo Chálreo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.


Endereço da página:

Links no texto: