Folha de S. Paulo


Babel gastronômica em Búzios

Um dos destinos turísticos mais famosos do país, Búzios também vem ganhando espaço como uma espécie de torre de Babel no cenário gastronômico nacional: na cidade da Região dos Lagos fluminense é possível encontrar pratos do leste europeu, 'parrilla' com carnes importadas da Argentina e uma 'trattoria' que segundo seu proprietário, natural de Pisa, serve "Itália pura" aos clientes.

Denis Kuck/Efe
Décima segunda edição do Festival Gastronômico de Búzios, no Rio, no sábado (13)
Décima segunda edição do Festival Gastronômico de Búzios, no Rio, no sábado (13)

Esse caráter cosmopolita na gastronomia da cidade de pouco mais de 23 mil habitantes se deve ao fato de pessoas de mais de 60 nacionalidades terem se seduzido por sua mistura de simplicidade e charme e se mudado de mala, cuia e - por que não? - panelas e pratos para lá.

Um exemplo da riqueza da culinária local é o Festival Gastronômico de Búzios, que nesse ano chegou, com sucesso, à sua 12ª edição. O evento, que ocorreu neste e no último fim de semana, é uma espécie de festa do interior com sabores do mundo todo.

Durante o festival, os chefs e restaurantes locais montam barraquinhas pelas charmosas ruas e centros gastronômicos da cidade para oferecer degustações de seus pratos com preços populares. O que inclui também uma bela seleção de vinhos e sobremesas.

"Búzios é uma cidade eclética, agitada e globalizada. O festival traz esse espírito e torna Búzios ainda mais elegante e charmosa. E além da gastronomia internacional, também temos na cidade os pratos e cozinheiros locais. Neste ano, 48 restaurantes estão participando, um recorde", diz o produtor do evento, Gil Castelo Branco.

Uma das casas participantes é a trattoria e pizzaria La Dolce Vita, que funciona no local mais badalado do balneário, a Rua das Pedras.

"Cheguei em Búzios há 15 anos para permanecer por pouco tempo, mas acabei ficando. Começamos com uma delicatessen, depois um bistrô, em seguida o restaurante. Aqui, servimos Itália pura. Os ingredientes e pratos são típicos, pizzas, farinha, queijos, vinhos", explica (com sotaque, é claro) o dono do estabelecimento, o italiano Alessandro Valenti.

Outro participante do festival é o Baroque, um dos mais surpreendentes restaurantes de Búzios, que funciona na própria casa (algo muito comum nos países do Mediterrâneo) da chef Ivana, nascida em Praga, na República Tcheca, e de seu marido alemão, Mike.

"Nossos pratos são típicos do leste europeu, além de Alemanha e França. Servimos, por exemplo, gulash húngaro, pato assado, salsicha alemã e armisch (joelho de porco defumado com chucrute branco ou vermelho). Como funcionamos dentro de casa, nosso atendimento é personalizado e exclusivo", afirmou Ivana.

Para dar um toque de charme a mais, Mike, que é um colecionador de móveis e relógios antigos, fez do Baroque também um antiquário: por isso, não se espante ao descobrir que está comendo em uma mesa ou cadeira do início do século passado.

O festival e Búzios ainda têm muitas outras opções. Após morar anos e estudar gastronomia na Espanha, o chef brasileiro Ricardo Dotta Vagner criou um restaurante com o nome do bairro onde morou no país europeu: La Barceloneta. Nas receitas, pratos típicos espanhóis, como as tapas, e mediterrâneos, como polvo à grega. Também há espaço no cardápio para libaneses, como o clássico kebab, acompanhado de pão caseiro e ervas e vegetais frescos.

Na Babel de Búzios convivem também a gastronomia francesa do Le Cigalon, a autêntica parrillada argentina no Don Juan - que tem até show de tango -, pratos tailandeses do Sawasdee e muitos restaurantes que sevem a culinária local, abundante em frutos do mar da região e elaborada por chefs da própria cidade.

Búzios é tão cosmopolita que o dono do principal jornal da cidade, o irreverente e único "O Perú Molhado" (assim mesmo, com acento), é um argentino, o carismático fotógrafo Marcelo Lartigue. O sotaque de nossos hermanos, aliás, é um dos mais escutados pela cidade, e muitas vezes o espanhol até parece a língua oficial de Búzios!

Percebendo a diversidade de nacionalidades no balneário, Lartigue produziu o livro "Búzios de Babel", como imagens e textos sobre os cidadãos do mundo que se tornaram buzianos. O livro já ganhou até uma segunda edição e um documentário, feito pelo próprio fotógrafo

"Búzios mudou muito desde a época em que foi descoberta pela atriz francesa Brigitte Bardot, na década de 60, e o período em que começou a receber todos essas nacionalidades. Hoje, continua atraindo os estrangeiros e turistas, nacionais e gringos, que se misturam à população local. Está cada vez mais confuso. E, para mim, cada vez melhor", argumentou.


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