Folha de S. Paulo


Efeito do agronegócio no PIB não deve se repetir

A safra recorde de grãos que o Brasil colheu neste ano voltou a contribuir de maneira decisiva para o resultado do Produto Interno Bruto. Os efeitos positivos do campo na economia, no entanto, podem não se repetir.

Com uma taxa 13% maior em relação ao segundo trimestre do ano passado, o crescimento da agropecuária foi o segundo melhor para o período desde o início da série histórica do IBGE, em 1996. Em 1998, o PIB do setor havia avançado 13,6%.

Além da produção recorde de soja e de milho, a baixa base de comparação contribuiu para o avanço. No segundo trimestre de 2012, o PIB agropecuário subiu só 1,7%, na comparação anual, influenciado pela seca no Sul do país, que prejudicou a produção de grãos na região.

Os preços também ajudaram. A maioria dos agricultores vendeu os seus produtos pelas cotações altas do ano passado -influenciadas pela forte seca que atingiu a produção nos Estados Unidos.

Com a colheita dos grãos finalizada, espera-se uma menor contribuição do agronegócio para a economia nos próximos trimestres.

"O segundo semestre será muito mais fraco. Mas isso não quer dizer que o campo vai estar mal. É que o efeito bom da soja já passou", afirma Francisco Pessoa Faria, economista da LCA.

Neste terceiro trimestre, seguem as colheitas da cana-de-açúcar, que devem crescer cerca de 10%, do milho segunda safra (15%) e do trigo (28%). Mas seus impactos sobre o PIB serão bem menores.

O valor bruto da produção agrícola oferece uma pista sobre a influência das culturas no PIB: enquanto a soja deve gerar R$ 82 bilhões neste ano, o valor da produção da cana será de R$ 48 bilhões, e o do trigo, de R$ 4 bilhões, segundo estimativas do Ministério da Agricultura.

Para 2014, Faria, da LCA, acha difícil que a agropecuária repita a mesma taxa de crescimento, devido à base de comparação mais elevada. "O PIB do setor vai crescer, porém menos do que o verificado neste ano."

Se para os grãos repetir o excelente desempenho de 2013 será difícil, as produções de carne de frango e suína, que se recuperam após a queda nos preços dos grãos (sua principal matéria-prima), podem influenciar positivamente, diz o economista.

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Ganho mensal A soja encerrou agosto com alta acumulada de 5,48% na Bolsa de Chicago, refletindo preocupações sobre a produtividade da safra americana.

Reflexo No mercado interno, a valorização da soja foi mais significativa: 11,5% no mês. Além da alta da commodity, o preço também reflete a valorização do dólar.

Revisão 1 O IGC (conselho internacional de grãos) elevou a estimativa para a safra mundial de trigo em 4 milhões de toneladas, para 691 milhões. A projeção para a safra 13/14 de milho também subiu, de 942 milhões para 945 milhões de toneladas.

Revisão 2 Já a produção de soja deve ser menor do que a prevista há um mês pelo órgão. A nova estimativa é de 280 milhões de toneladas, 4 milhões abaixo da anterior.

Nova alta O preço do frango voltou a subir ontem nas granjas do interior paulista (1,9%). Ontem, o quilo da ave viva era negociado a R$ 2,60 por quilo, acumulando alta de 4% na semana.

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Austrália 'rouba' do país mercado em carne

A demora para reabrir mercados fechados para a carne bovina brasileira no final de 2012, devido ao caso atípico de vaca louca no Paraná, está beneficiando a Austrália.

Dos 18 embargos impostos, só 4 foram resolvidos. Entre os países que ainda restringem a carne nacional, dois são estratégicos para o Brasil: Arábia Saudita e China.

O primeiro já era um importante mercado para a carne brasileira, representando importações de US$ 164 milhões no ano passado. Já a China era o mais promissor.

A Austrália se aproveita da situação. As vendas para a China devem crescer 249% em 2013, para 115 mil toneladas. Já os embarques para o Oriente Médio, incluindo a Arábia Saudita, devem subir 59%, para 50 mil toneladas, segundo a indústria local.

Tatiana Freitas, interina


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