Folha de S. Paulo


Entre o céu e o inferno

NA ÚLTIMA semana de campanha eleitoral, a Folha viveu o céu e o inferno do jornalismo.

Primeiro, as más notícias. Na sexta-feira, dia 24, o site do jornal, no afã de informar primeiro, cometeu um grande erro. Às 19h29, colocou na home (página inicial) que o senador Romeu Tuma tinha morrido.

Circulava no meio político que a sua saúde havia piorado. Procurado pela Folha, um médico, que não atende o candidato, disse que ele estava morto. Era só uma fonte, em "off", que não era da família nem da direção do hospital. Apenas com isso, o site anunciou a morte de Tuma, que virou manchete do UOL.

Rapidamente, chegaram desmentidos e, três minutos depois, a notícia saiu da home, mas ficou no site até as 19h55. A correção só apareceu às 21h18, quase duas horas depois que a notícia errada tinha sido veiculada.

Foi um grave erro de apuração, de edição e de falta de agilidade na hora de corrigir. Foram 38 mil cliques na falsa morte, que vazou para o Twitter e o Facebook.

A internet é rápida e fácil de fazer. Para dar um furo, basta a informação: em instantes, ela é divulgada, sem necessidade de produzir imagens (TV) ou de imprimir algo (jornais). É aí que mora o perigo.

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Depois da "barriga" -notícia falsa, terror de todo repórter-, a Folha conseguiu dar um belo "furo" -na definição do colunista Xico Sá, aquela notícia exclusiva que dá inveja nos outros jornalistas.

O jornal informou, na quinta-feira, que José Serra ligou para Gilmar Mendes no dia em que o Supremo Tribunal Federal decidiria sobre a documentação necessária para votar. Em seguida, o ministro pediu vista, interrompendo o julgamento.

A Folha obteve esse furo sem recorrer a denúncias anônimas ou grampos telefônicos. Só observou.

Depois de assistir a um encontro de Serra com servidores em São Paulo, a imprensa saiu do recinto para "se posicionar" -pegar um bom lugar- na entrevista que ele daria do lado de fora.

Insatisfeito com as fotos que tinha feito, Moacyr Lopes Jr., 42, ficou no auditório e viu Serra pedir uma ligação para Gilmar Mendes. O candidato começou a caminhar enquanto falava ao celular. Moacyr fotografava e ouviu Serra saudar o interlocutor com um "meu presidente".

Na volta para o jornal, contou o que viu à repórter Catia Seabra, que completou a apuração.
Moacyr não se escondeu. Como acontece com muita gente, inclusive com jornalistas, Serra esqueceu que quem faz as imagens não é chamado de "repórter-fotográfico" à toa.

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O furo do telefonema Serra-Gilmar Mendes engrossou uma série de reportagens publicadas nesta semana mais críticas ao PSDB.

O jornal relatou os questionamentos do TCU às contas do governo Serra, levantou números desfavoráveis de educação na gestão Alckmin e noticiou que Beto Richa, do Paraná, conseguiu censurar a divulgação de pesquisas.

Ontem, levou para a manchete um caso localizado, ocorrido em Roraima: a apreensão de dinheiro perto do escritório do senador Romero Jucá. O título "Aliado de líder do governo joga pela janela R$ 100 mil" poderia ter sido "Aliado da coligação PMDB-PSDB joga R$ 100 mil pela janela" . Fazer jornalismo equilibrado é um desafio constante.


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