RIO DE JANEIRO - Há 30 anos e alguns meses, Luiz Schwarcz, diretor da histórica editora paulistana Brasiliense, telefonou-me para contar. Estava deixando o emprego para fundar sua própria editora. Nos dois anos anteriores, eu lhe prestara pequenos serviços na Brasiliense, na forma de indicações editoriais, prefácios e orelhas. Luiz pediu-me uma sugestão de nome para sua editora. Prometi pensar, mas não me veio nada interessante. Semanas depois, voltou a ligar: "Que tal Companhia das Letras?".
Ponderei e respondi: "Sinceramente, Luiz, não gosto muito. É formal demais. Além disso, esse 'Companhia' logo será reduzido para 'Cia.' e poderá ser confundido com a espionagem americana, a CIA". Luiz ficou de considerar minha opinião. Dali a dias, ligou-me de novo, mas para comunicar: "Não conseguimos pensar em nada melhor. Vai ficar Companhia das Letras, mesmo". Eu disse: "OK. Mas continuo achando que vão chamá-la de CIA".
Bem, pelo que a marca Companhia das Letras logo passou a representar na indústria editorial brasileira — e são agora 30 anos, que ela completa esta semana —, você já sabe: se precisar de um nome para sua editora, não perca tempo comigo.
A Companhia começou como uma pequena editora, na rua Tupi, dedicada a lançar poucos livros, mas de alta qualidade, e transformou-se na gigante do Itaim, com braços internacionais e um catálogo nunca visto no Brasil – tão vasto que comporta até dezenas de livros meus. Orgulho-me de ser seu autor mais antigo em atividade e, quando a visito, uma ou duas vezes por ano, para discutir projetos, sinto o mesmo clima da rua Tupi. Por sinal, vários rostos queridos daquele tempo estão lá até hoje.
Em 1986, eu já tinha quase 20 anos de imprensa e não pensava em mudar. Luiz Schwarcz me inventou como escritor. Conto isto pela primeira vez — foi ele o culpado.