Folha de S. Paulo


Mimo antiestresse

RIO DE JANEIRO - Quando esteve no Brasil, em 1987, o escritor americano Gore Vidal abria suas palestras com uma brincadeira: "Antes de começar, preciso dar uma notícia. Acabo de saber que houve um incêndio na biblioteca do presidente Reagan. [Pausa] Ambos os livros se queimaram". A plateia caía na gargalhada. Vidal esperava e concluía: "E o pior é que, um deles, o presidente ainda não tinha acabado de colorir". Cólicas de risos nos espectadores.

A ideia de que adultos responsáveis e com o mais o que fazer usariam um livro para colorir era impensável até há pouco. Mas o sucesso de "Jardim Secreto", de Johanna Basford –96 páginas de desenhos a nanquim de flores, folhas, árvores e pássaros–, lançado aqui pela Sextante, mudou tudo. Se as pessoas tentam zerar o Q.I. e aliviar o estresse resolvendo palavras cruzadas, jogando paciência ou brincando de cozinhar, por que não fariam isso colorindo figuras em um livro?

Em todas as casas de amigas a que fui nos últimos tempos, vi um exemplar de "Jardim Secreto" na mesinha de centro e colorido até a metade. Ao lado, uma daquelas lindas caixas com araras na tampa, contendo 96 lápis de cor. E justiça seja feita: todas essas amigas pareciam tranquilas e relaxadas ao ponto quase do rigor mortis. Ou seja, a coisa funciona.

Por isso, tenho pensado em sugerir a alguns próceres do PT que mimoseiem a presidente Dilma com um exemplar de "Jardim Secreto". Como ela acaba de terceirizar seu governo ao vice Michel Temer, ao ministro Joaquim Levy e a outros, sua agenda diminuiu muito e não lhe faltará tempo para aplicar os competentes lápis de cor.

Vai lhe fazer bem. Permitir-lhe-á receber melhor as preocupantes denúncias de corrupção, os péssimos índices da economia, sua constante queda nas pesquisas e as monumentais broncas do Lula.


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