RIO DE JANEIRO - O Google, sempre ele. Como foi que nos viramos por 4.000 anos sem os seus serviços? Não contente em ser o maior banco de dados já criado pelo homem, com informações sobre absolutamente tudo e também com conversa fiada e palpite errado sobre quase idem, em breve ele nos dará a possibilidade de nos entendermos de viva voz com o resto do mundo, e vice-versa.
A turismo por, digamos, Alemanha, Rússia ou China, e diante de alguém que insista em usar o dialeto local, bastará a você falar num smartphone. O aparelho processará a sua frase e a traduzirá vocalmente para o interlocutor. Este a ouvirá e, sacando do seu (dele) próprio smartphone, a responderá. Então será a sua vez de ouvir a resposta em português ou algo parecido. Depois disso, o que acontecerá entre você e o dito interlocutor será só da conta de vocês --ou de seus smartphones.
Tal maravilha não facilitará a vida apenas dos monoglotas do circuito Elizabeth Arden, em cuja divisão de acesso atuamos, mas permitirá que persas se comuniquem com bolivianos, búlgaros com zulus e malaios com esquimós. Será o fim das fronteiras linguísticas e, espera-se, o início de uma nova era de relações comerciais, culturais, talvez até amorosas.
Ou não. O que tantos terão a falar entre si? E tudo dependerá da competência do Google. Há tempos ele já oferece serviços de tradução de texto em 71 línguas --e qualquer usuário sabe que o resultado não é muito melhor do que o dos comerciais estrelando Joel Santana, em que ele pergunta, "Pode to be?".
Nada de surpreendente nisso. Enquanto não converterem a língua falada em matemática, ela continuará a ser um intransferível privilégio humano. Um dia, o Google provavelmente conseguirá traduzir um texto de Sousândrade, Joyce ou Guimarães Rosa. Mas não understanderá bulhufas se um dos interlocutores for o querido Joel.