Folha de S. Paulo


Sete dias

BRASÍLIA - As panelas voltaram a bater na semana passada. Mas isso é coisa fácil. Pegar uma colher de pau e fazer uma batucada na janela, esperando o jantar ficar pronto, não dá muito trabalho. Muita gente boa ganha dinheiro fazendo isso. Chamam de samba.

A distância entre o sofá e a varanda é contada em passos. Em sete dias, vamos ver quantos vão deixar a comodidade das cápsulas de solidão, aquelas coisas que podem ter até 30 metros quadrados e ainda assim ser o que chamamos de lar, pra fazer barulho de verdade nas ruas.

Deixar a comodidade da sala, andar pelo corredor do prédio e apertar o botão do elevador será fundamental para medir o quanto o país está disposto a derrubar, ainda sem avaliação clara das consequências, uma presidente democraticamente eleita não faz nem um ano.

O golpismo está no ar. Mas a presidente Dilma Rousseff não pode reclamar muito dessa "operação derruba". A petista, que não é de raiz, conseguiu em pouco mais de seis meses ser considerada um erro por todos.

Quem votou na ex-ministra de Lula está decepcionado pelos caminhos indicados pela moça na economia. Quem votou no nobre morador do Leblon também não está satisfeito. Se era pra ser o rapaz do Bradesco na Fazenda, melhor que fosse o amigo da butique financeira carioca.

O ponto em comum entre os dois é a natureza falsa do "mineirismo" de cada um. Dilma é uma gaúcha tentando ser, vez ou outra, uma mineira (mas sem a educação básica da turma das Minas Gerais). O tucano Aécio Neves mantém as velhas tradições de São João Del Rei, uma espécie de portal virtual para a zona sul do Rio.

Derrubar presidente não é coisa simples. Os efeitos são catastróficos para o país. Quem viveu o período pós-Collor sabe do que estou falando. Em sete dias, vamos saber qual é a verdadeira temperatura dessa fritura e a disposição do povo de encarar a encrenca.


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