Folha de S. Paulo


Tempos difíceis

BRASÍLIA - Deputados e senadores retomam os trabalhos nesta semana depois de uma breve folga, garantida por uma pequena burla da Constituição Federal, porque, todo mundo sabe, ninguém é de ferro.

A presidente Dilma esperava que o clima beligerante que tomou conta do Congresso antes do recesso perdesse um pouco de força, o que garantiria um início de agosto, popularmente conhecido como o mês do cachorro louco, um pouco mais tranquilo. Não vai ser bem assim.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara dos Deputados que já era o aliado mais amigo da onça do Planalto, rompeu oficialmente os laços com o governo da petista e do colega de partido Michel Temer.

Prometeu instalar duas comissões parlamentares de inquérito que podem atazanar ainda mais a vida de Dilma Rousseff e votar uma série de projetos que vão custar caro aos cofres federais caso sejam aprovados.

Cunha pode ser denunciado neste mês pela Procuradoria-geral da República por suposta participação no esquema de corrupção na Petrobras. Ainda terá que trabalhar sob a suspeita, lançada pela criminalista Beatriz Catta Preta, de ter intimidado a advogada, junto com seus aliados na CPI da Petrobras, depois que o lobista Julio Camargo afirmou ter pago US$ 5 milhões em propina para o peemedebista do Rio.

Nada disso, porém, parece ter abalado a disposição de Cunha de continuar sua guerra contra Dilma. O rompimento com o governo petista não foi seguido pelos colegas, mas isso não representou um isolamento do deputado. Basta ver as declarações dos líderes das bancadas em favor da manutenção do deputado no comando da Casa mesmo se o Supremo aceitar a denúncia da PGR.

Para completar o quadro, a economia que vinha mal, piorou. Se o Congresso não aprovar as últimas medidas do pacote fiscal, o governo não vai conseguir economizar nem o pouco que prometeu há duas semanas. Tempos difíceis, bem difíceis.


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