Folha de S. Paulo


Em conversa gravada, padre não se defende de acusação de abuso sexual

Aos 48 anos, o empresário Marcelo Ribeiro, 48, decidiu acusar publicamente um religioso de abusar sexualmente dele dos 12 aos 15 anos. Segundo ele, o abusador é o ex-padre católico João Marcos Porto Maciel, que também foi maestro de coros da Catedral de Diamantina (MG) e Novo Hamburgo (RS).

Ao comemorar 32 anos de atividades com meninos cantores, em 17 de junho de 2011, o religioso dom Marcos definiu sua trajetória como "uma longa jornada de compensações e ingratidões".

Um dos pupilos ingratos a que se refere seria o filho de uma viúva que, com seu apoio, estudou música na Alemanha, onde ganhou fama e vive até hoje. "Infelizmente, sem que eu saiba o motivo, ele deixou-me no esquecimento total."

Em telefonema gravado dois anos atrás, ao qual a Folha teve acesso, Marcelo Ribeiro confronta dom Marcos sobre os abusos que ele e o filho da viúva -uma quinta suposta vítima -relatam ter sofrido.

Na ligação, Ribeiro diz ao ex-padre que o músico nunca mais lhe procurou porque "aconteceu com ele o que aconteceu comigo".

A resposta à afirmação de que ambos foram violentados é um grunhido: "Hum, hum", diz o religioso. "Lembrar do abusador a vida inteira não é simples, hein, João Marcos?", inquire o ex-aluno. "Pois é, acredito, pode ser", sussurra o religioso.

Em nenhum momento dos 13 minutos de diálogo dom Marcos nega as acusações. E se justifica. "Hoje eu sou um vovô com 71 anos." "Mas isso não apaga o que fez", rebate Ribeiro. "É verdade", limita-se a responder o religioso, antes de desligar o telefone.

Dom Marcos confirma a ligação. "Mas só descobri a intenção dele no fim da conversa. Não autorizei a gravação." Indagado sobre por que foi cordial e não se defendeu, diz: "Sou religioso. Não posso meter os cachorros quando me ligam".


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