BRASÍLIA - "Tensão política leva dólar a atingir valor de R$ 3,13 e faz Bolsa recuar 1,6%."
Assim a Folha relatou em março de 2015 o impacto no mercado da divulgação do primeiro conjunto de cabeças premiadas do petrolão.
Eram 50 políticos de seis partidos implicados no esquema pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o delator número 1 da Lava Jato, e pelo doleiro Alberto Youssef.
Entre os alvos, os então comandantes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), além de outros 32 congressistas.
Nas falas dos políticos registradas à época, muita "tranquilidade", "serenidade" e "certeza" de que a apuração iria conduzir a nada mais do que à inapelável absolvição.
De fato, com uma ou outra complicação —como para Cunha, preso há quase seis meses em Curitiba—, há certa razão de ser na propalada tranquilidade. Mais de dois anos depois, contra apenas 5 dos 50 alvos foi de fato aberta ação penal. Em nenhum caso foi instaurado processo de cassação na Câmara ou no Senado.
Na lista 2.0 que veio à tona nesta terça (11) há pelo menos 97 alvos, o dobro de 2015, em lista baseada na delação premiada da Odebrecht, a maior empreiteira do país.
Além do repeteco em relação aos presidentes da Câmara e do Senado –agora Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE)–, há 17 nomes que já estavam na lista de 2015, entre eles Renan e Cunha, e, diferentemente de dois anos atrás, nada mais do que oito ministros do governo de Michel Temer.
Novamente as manifestações dos suspeitos falam em "tranquilidade", "serenidade" e certeza de que a investigação restabelecerá a verdade.
Nos bastidores do mundo político, o estrago desta superterça não é subestimado. Mas a esperança é a de que, assim como em 2015, o impacto se dilua na tradicional lentidão judicial e no discurso de que delações, por si só, não são prova de nada.