O novo presidente da Confederação Sul-Americana, Alejandro Dominguez, tem uma frase linda para definir seu plano de governo: "Por décadas, o objetivo da Conmebol foi o dinheiro e o meio para alcançá-lo foi o futebol. Agora, o objetivo é o desenvolvimento do futebol. O meio é o dinheiro."
Aplicar a frase não é utopia. É obrigação.
O que parece utópico no primeiro ano de Libertadores de ano inteiro é resistir à janela de transferências da Europa. "É muito difícil", diz o diretor do Palmeiras, Alexandre Mattos.
Quem fala representa o campeão do Brasil, o país de economia mais forte da região e dono do maior contrato de patrocínio da América do Sul.
O projeto da nova Libertadores não é para 2017. Em tese, é para muitos anos. A tentativa é fazer o torneio arrecadar mais dinheiro, ser mais atraente para patrocinadores e emissoras de TV e distribuir a grana entre os clubes.
Não é possível equiparar a condição econômica dos times sul-americanos aos da Europa. A Bolívia não vai competir com a Espanha. Mas a economia do futebol do Brasil pode concorrer com a da Ucrânia, em médio prazo.
Há anos repetimos isso sem nunca sair do papel.
Por isso, a janela de transferências do verão europeu pode mudar completamente o cenário da Libertadores-2017. O melhor time da fase de grupos pode perder seu craque em junho e ser eliminado em agosto. Só que este não é um ponto negativo da nova Libertadores em comparação com a velha.
Em 2015, o colombiano Teo Gutiérrez era a estrela do River Plate na eliminação do Cruzeiro, nas quartas de final. Nas semifinais, ele já estava vendido para o Sporting. Em 2016, o Atlético Nacional brilhou até as quartas com o atacante Ibarbo. Nas semifinais contra o São Paulo, já não fazia parte do elenco.
Para repor a ausência, o campeão da Libertadores contratou Miguel Borja, autor de cinco gols em quatro jogos.
A nova Libertadores copia a Liga dos Campeões. Muita gente estranhou o intervalo entre os jogos do mata-mata. Oitavas de final em julho e agosto, quartas em setembro, semifinais em outubro, finais em novembro. A Champions funciona exatamente assim. Seis jogos de grupos entre setembro e dezembro, oitavas em fevereiro, março para as quartas, abril para a semifinal, antes da decisão em maio.
A cópia só não é perfeita porque não houve a inversão do calendário. Se a Libertadores começasse em setembro e terminasse em maio, fugiria da concorrência da maior janela de transferências da Europa, em julho. Não evitaria o assédio chinês e mexeria com o calendário do país que mais interessa à nova Conmebol: o Brasil.
Não há razão técnica para a CBF ter oito representantes. Nos últimos três anos, nenhum time brasileiro chegou à final e houve apenas dois semifinalistas -Internacional em 2015, São Paulo em 2016.
O motivo das oito vagas é econômico. O estudo encomendado pela Conmebol indicou que para a Libertadores crescer é necessário haver mais interesse no Brasil, na Colômbia e no México.
Se o objetivo é desenvolver o futebol e o meio é o dinheiro, a Conmebol terá de arrecadar mais de patrocinadores e emissoras de TV aqui mesmo, dentro do Brasil.