Folha de S. Paulo


A avenida e a cidade

RIO DE JANEIRO - É a avenida principal a cortar o centro da cidade. No traçado e nos prédios que a ladeiam, lê-se a história da construção e da destruição do país. Inaugurada em 1905, com 33 metros de largura e 1.800 metros de comprimento, a avenida Central era o coração da cidade-cenário criada pelo prefeito Pereira Passos à imagem de Paris.

Incentivado pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906), que queria colocar o país na "modernidade", o prefeito pôs abaixo centenas de casas coloniais e edifícios de vários estilos. Desalojou milhares de pessoas.

No canteiro central, havia mudas de pau-brasil e nas calçadas, pedras portuguesas. Havia 30 prédios novos e cerca de 80 em construção. A avenida tornou-se local de passeio das famílias, trajadas à moda europeia, com sombrinha, chapéu e pincenê.

Rebatizada em 1912, em homenagem ao barão de Rio Branco, a avenida hoje pouco lembra o projeto inicial. Não há canteiro central nem paus-brasil. Poucas construções resistiram. A maioria dos prédios são arranha-céus com mais de 20 andares.

A avenida Rio Branco está de novo em obras. Nesta semana, metade da via foi fechada aos carros para instalação da estrutura dos VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos). Com seis linhas, 28 quilômetros e 42 paradas, quando pronto, mudará a locomoção de quem passa pelo centro do Rio, ligando pontos de grande fluxo como rodoviária, aeroporto e estação de barcas. Reinventados, os bondes voltarão ao centro do Rio.

Mudanças, desde que planejadas e racionais, oxigenam uma cidade. O problema são os improvisos.

A obra começou sem que houvesse um projeto completo da região. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) chegou a anunciar a transformação da Rio Branco num imenso bulevar. Sem carros nem ônibus, com praças, jardins e bancos. A proposta foi questionada, as pressões começaram e agora sobram incertezas e entulhos.


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