Folha de S. Paulo


Eu acredito é na rapaziada

Os Jogos Olímpicos, enfim, chegaram a São Paulo. Não falo das partidas de futebol masculino e feminino, que ocorrem no estádio do Corinthians, em Itaquera.

Os palpites sobre a abertura, que acontece nesta sexta (5), se alastram pela cidade. Na última semana, ouvi comentários sobre o evento na padaria, no restaurante, no metrô, num táxi, num Uber... Todos em tom de resmungo.

Duas convicções se impõem. Primeiro, nós, brasileiros, não temos expertise para espetáculos dessa grandeza. Depois, é inevitável que essa festa seja cafona, o que seria definitivamente inadmissível.

Sobre a capacidade de armar ambiciosos eventos de entretenimento, o Carnaval do Rio é prova de que estamos à altura do desafio. Goste-se ou não da folia, é preciso reconhecer a complexidade logística que costuma ser contornada satisfatoriamente.

Em relação ao segundo ponto, festas de abertura de Olimpíada são kitsch por excelência, assim como o Carnaval, aliás.

Nosso pendor à nostalgia tende a colocar no pódio o urso Misha, mascote dos Jogos de Moscou, de 1980. Formado por placas coloridas, o bicho soltou uma lágrima durante a abertura russa. Veja no YouTube e talvez concorde comigo que é de gosto duvidoso.

Celebrações que abrem grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e o Super Bowl, sempre fazem concessões à cafonice. É inerente a um gênero que se pretende acessível a milhões de pessoas, in loco ou pela TV.

Mas não parece plausível que seja de todo vulgar uma apresentação com Caetano Veloso e Gilberto Gil, que fizeram, juntos, o melhor show da música brasileira no biênio 2014-2015. Há ainda Fernanda Montenegro, Paulinho da Viola, Jorge Ben Jor, figuras sempre elegantes da cultura do país.

Bem, ouvintes mais sensíveis devem sofrer com o funk de Anitta, mas poderia ser pior. A cantora é biscoito fino em meio à massa popularesca, repleta de sertanejos de pretensões e agudos ilimitados.

Lembro-me de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que fez razoável sucesso na segunda metade dos anos 1970 e ao longo dos anos 1980.

Sua obra era e continua sendo alvo de avaliações divergentes. Em que pese as letras de um engajamento não raro simplista, criou boas melodias, embora estivesse sempre aquém da inventividade do pai, Gonzagão.

Em "E Vamos à Luta", Gonzaguinha cantava: "Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão". Com seus fogos e músicas para encantar brasileiros e gringos, que seja bela, ainda que brega, a abertura dos Jogos.


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