Folha de S. Paulo


Tudo passa?

Lá no fundo da lembrança da infância, a voz possante de Nelson Ned explode no rádio: "Mas tudo passa/ tudo passará!"

Vem também a recordação do primeiro "fora", da primeira vez que a primeira namorada, o primeiro amor (Marlisa? Mariaelisa?) disse que ia, mas não foi; falou que era eu, mas era outro.
Ai, que dor!

Lembra daquela marchinha de Carnaval "Quanto riso/ oh, quanta alegria/ mais de mil palhaços no salão"?

Pois é, foi ao som da velha canção de Zé Keti que se deu o primeiro beijo ("Vou beijar-te agora/ não me leve a mal/ hoje é Carnaval").

Confete, serpentina, aquele gosto bom na boca...

Quando foi?

No século passado.

Muito tempo antes de o som do "stereo" liberar a voz única de David Bowie: "Star man/ waiting in the sky", mas aí a história já era bem outra, e o gosto no canto da boca, sim, também bom, era agora misturado com o de Jack Daniel's.

Ou era outra bebida? E, sim, era outra canção?

Frank Sinatra, "djubi-djubi-du".

O começo, um grande começo de algo muito, muito mais profundo e duradouro que o fugaz amorzinho bonitinho, adolescente de Carnaval.

"Amor, meu grande amor, não chegue na hora marcada...", diz a Angela Rô Rô no meio da coisa toda, porque, quando a porta do memorial sentimental ferido se abre, é assim mesmo, um turbilhão em que vale tudo, até Milton Nascimento comunicando que "minha casa não é minha, nem é meu esse lugar".

E o pior é que não é mesmo, já se mistura tudo, espaço, tempo, sentimentos vãos.

E lá no fundo, bem no fundo, a voz do "pequeno gigante", em vibrato: "Só se encontra a felicidade/ quando se entrega o coração!".

Será?

(Trechos e referências musicais acima foram extraídas de uma coluna publicada aqui muitos anos atrás, e faço isso em homenagem a um grande amor e ao recém-falecido cantor Nelson Ned, de quem meu lado brega sempre foi fã sincero)


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