Na semana passada, logo após sua (re-)apresentação no Milan, Kaká sacou seu celular e fez um vídeo. De dentro do carro que estava sendo literalmente balançado por torcedores felizes com sua volta, postou rindo no Instagram, quase que transmitindo ao vivo, a tentativa dos fãs de chegar perto dele, sem se importar que para isso tivessem que atravessar lataria e vidros.
Alguns dias depois, no sábado, Kaká já estava em campo fazendo o Milan andar a seu ritmo, com dribles espertos, corta-luz, passes precisos e chutes a gol.
Tudo bem, o jogo era amistoso e o adversário, um time da terceira divisão da Suíça. Não tinha ao seu lado Balotelli nem o El Shaarawy, mas tinha o parceiro Robinho.
A Kaká, como boas-vindas, foi dada a faixa de capitão do time. Chegava a ser irritante ver na internet, pelas imagens pescadas do Milan Channel, o quanto sorria o jogador, a cada vez que a câmera o focava.
De que está rindo o Kaká, última vez visto como craque há uns quatro anos, mais exatamente na última Copa do Mundo?
Nos anos posteriores, criou raiz esquentando o banco de um dos três times mais poderosos do mundo. Daí seu treinador dos sonhos (o italiano Ancelotti) foi contratado e o obstáculo maior (o alemão Özil) foi transferido para outro clube. Mas ainda assim não quis refazer sua história no Real Madrid?
Assim como esta coluna ainda tem um pouco de paciência em esperar o outrora melhor jogador do mundo jogar pelo menos 50% da bola que jogava em 2007, talvez Kaká esteja sorrindo tanto porque sabe que os deuses do futebol começam a olhar por ele.
A uns oito meses da convocação para o Mundial 2014, do nada, Felipão parece ter ganho dúvidas no setor que até um mês atrás ele tinha mais certezas. O setor de Kaká.
O matador Fred não é confiável do ponto de vista físico. Qualquer contusão muscular que tem, a demora para recuperar é maior. O Hulk é o Hulk. O Jô, pós-Libertadores do Galo, fazia uns 40 dias que não marcava um gol, se você considerar dignos de nota esses contra a Austrália. O Bernard conseguiu apagar o Lucas de maneira até cruel, mas nos próximos meses vai passar a se esconder na Ucrânia. Nunca se sabe.
Neymar é a estrela do time, mas parece que o Felipão, pelo perfil, não quer que se fale disso. Nem na Copa-2002 ele dizia que era a "seleção do Ronaldo". Era a família Scolari, que tinha o Ronaldo. Tinha também Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu, Roberto Carlos e... Kaká.
Vale lembrar que ele apostou no jogador quando Kaká ainda estava despontando. E deixou de fora, à época, nomes como Alex e Romário.
O primeiro jogo do resto da vida de Kaká, para valer, será diante do Torino, sábado, pelo Italiano. Se fizer uma temporada boa, pode ouvir o chamado de Felipão. E aí sim vai rir gostoso, sem ser ele a piada.