Lisboa foi invadida por turistas –pelo menos no centro velho, em Baixa Pombalina e no Bairro Alto. Nesta época do ano, são no geral polidos e têm bons modos, principalmente casais alemães de meia-idade desfrutando da aposentadoria ao sol. Os portugueses, nessa parte do centro, trabalham quase todos no setor de serviços e também são muito polidos e prestativos. Os chineses também estão aqui. Mas eles são ocupados demais para gastar euros.
Tenho idade suficiente para me lembrar da Baixa na era de Salazar. As ruas eram protegidas à noite por policiais aposentados usando uniformes do século 19. Eles carregavam grandes molhos de chaves com as quais abriam as portas das casas para os moradores. Nos anos 80, a Baixa foi mais ou menos abandonada quando as pessoas se mudaram para novos apartamentos especulativos construídos no que até então eram colinas verdejantes. A Baixa agora reviveu (em parte) como atração turística, com muitos hotéis novos escondidos em suas edificações do século 18.
Na metade dos anos 60, estrangeiros eram muito raros. A menos que viessem como passageiros dos ocasionais navios de cruzeiro. Então todos os rapazes jovens afluíam ao centro. As meninas portuguesas não tinham licença para sair de casa. Minha irmã e sua amiga Pauline vieram me visitar quando eu estava morando em Lisboa, em maio de 1964. Meus pais viajaram de carro de Somerset, na Inglaterra, e atravessaram França, Espanha e Portugal até Lisboa. Eu tinha avisado a Margaret e Pauline que não saíssem sozinhas. Mas nenhuma irmã mais nova presta atenção ao que o irmão mais velho diz. Pouco depois, tive de resgatá-las em meio a um círculo de atenciosos e babões (mas muito bem educados) jovens portugueses, no Parque Eduardo 7º (cujo nome se refere a um monarca inglês, não português).
Mas na época era impossível para um estrangeiro (especialmente um inglês de 22 anos) conhecer portugueses de verdade. Todos os cafés eram frequentados por espiões da polícia secreta. As pessoas tinham medo de conversar com estrangeiros. Como eu estava em Portugal para aprender o idioma, o desespero me levou a colocar um anúncio anônimo no jornal, dizendo que um jovem estudante inglês gostaria de trocar aulas de idiomas com um jovem estudante português. Foi um tiro no escuro. Mas o anonimato derrubou as barreiras. Recebi centenas de respostas. Fiz amigos duradouros como resultado.
Em clima de nostalgia, nesta semana, tive um maravilhoso jantar no terraço do Hotel Tivoli. Pouca gente estava lá, numa noite de segunda-feira. Mas a vista era espetacular, enquanto o sol se punha, do castelo de São Jorge à esquerda à Baixa e o rio Tejo, abaixo, e ao Bairro Alto à direita. Valeu muito a pena. Mesmo que tenha sido apenas uma recordação rósea do passado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI