Folha de S. Paulo


Se Renan chama juiz de juizeco, jogadores não podem criticar árbitros?

Os sopradores de apito no futebol brasileiro estão em polvorosa, indignados mesmo.

Por meio da ANAF, a Associação dos Árbitros de Futebol, encaminharam um pedido ao STJD, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, contra os jogadores que soltaram o verbo contra eles depois dos jogos entre Palmeiras e Sport e Flamengo e Corinthians.

Como se sabe, Diego Souza, do Sport, botou a boca no trombone depois que seu time não teve um pênalti claro marcado pelo soprador de apito, em São Paulo.

E Lucca, do Corinthians, não deixou por menos pela validação de gol do Flamengo em flagrante impedimento, no Rio.

O rubro-negro pernambucano luta para fugir do rebaixamento e o alvinegro paulista por vaga na Libertadores.

Tanto um quanto outro sofrerão pesados prejuízos caso não atinjam seus objetivos e, de cabeça naturalmente quente após os jogos, protestaram com veemência contra erros evidentes.

Via ANAF, de cabeça fria, os sopradores exigiram punições. Direito deles, por suposto.

Só que, se Renan Calheiros destratou um juiz federal que errou e o chamou de juizeco, por que raios os jogadores não poderiam protestar contra quem os prejudicou?

Pois eis que erram também os sopradores.

Melhor fariam se exercessem o corporativismo ao reivindicar a profissionalização da profissão.

Melhor fariam ainda se exigissem a independência dos departamentos de árbitros das federações estaduais e CBF, porque é sabido que o controle do apito e da justiça esportiva são dois dos meios mais eficazes para exercer o poder no mundo do futebol.

Além dos jogadores citados, a pontaria se voltou também para os presidentes do Palmeiras, Paulo Nobre, e do Fluminense, Peter Siemsen, que andaram deitando falação contra Suas Senhorias, os sopradores.

Estes têm menos direito, assim como 11 em cada dez treinadores, de reclamar, porque só o fazem quando seus times são prejudicados, jamais quando, na mesma proporção, são beneficiados e têm poder, embora não exerçam, para exigir mudanças no atual estado, calamitoso, da arbitragem brasileira.

Deixemos claro que é compreensível a revolta dos apitadores, porque está implícito nas críticas que tanto os jogadores quanto os cartolas desconfiam que tem gato no apito.

Por mais que sejam ainda recentes os escândalos na arbitragem nacional, os atuais responsáveis por fazer cumprir as 17 regras do futebol não têm nada com isso.

Além disso, nunca é demais repetir, é covardia comparar os olhos de quem apita com os das câmeras de TV, embora também não se lute para botar em prática imediatamente a arbitragem eletrônica.

Os goleiros falham, os zagueiros furam, os meias erram passes, os atacantes perdem gols, os torcedores são passionais, mas, de nenhum deles se exige neutralidade.

Ah, sim, é verdade, e nós, jornalistas, perpetramos bobagens sem fim.

Mas enquanto os árbitros permanecerem sem dar exclusividade ao seu ofício, não se libertarem das entidades dirigentes e não contarem com o auxílio do olhar eletrônico, tudo seguirá como está.

Que os jogadores, ao menos, possam chiar.

Porque quem não chora não mama, segura meu bem, a chupeta...


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