Tablets e iPads são uma bênção para pais modernos. Cenário recorrente: há um jantar de amigos; os casais levam os filhos. Nas horas seguintes, ninguém ouve as crianças, ninguém se preocupa com elas. Estão todas com os rostos enfiados nos seus brinquedos eletrônicos, jogando ou assistindo a filmes, uma forma de anestesia que é música para os meus ouvidos.
Pena que nem todos os pais pensem da mesma forma. Um amigo, que até apreciava o esquema, descobriu atônito que a descendência era silenciosa –em casa, no carro – porque consumia-se pornografia. Não será caso único, aposto. Como responder a essa verdadeira epidemia?
Sugerindo calma ao pessoal e citando a revista "The Economist" sobre a matéria. Sim, a pornografia é onipresente na internet. Sim, crianças e adolescentes conseguem ver imagens "hardcore" em seus tablets ou celulares que seriam impensáveis para gerações passadas. Mas é preciso meter duas coisas na cabeça.
A primeira é que a proibição da pornografia é uma quimera impraticável. O número de páginas dedicadas ao negócio oscila entre 700 milhões e 800 milhões. Difícil dizer ao certo. Proibir um site no meio desse oceano é uma piada e, mais que isso, um incentivo para que surjam mais dez, ou cem, ou mil sites no minuto seguinte.
Mas a segunda mensagem é que os alarmismos sobre o assunto não encontram carimbo científico. Tradicionalmente, afirma-se que a pornografia degrada as mulheres, contribui para a violência sobre as ditas e pode provocar danos irreparáveis na cabeça dos menores.
Infelizmente, os dados empíricos e os estudos a respeito não apoiam essas teses. Sobre a condição das mulheres, sobretudo no mundo desenvolvido, ela melhorou nas últimas décadas em todos os quesitos relevantes –representação social, participação laboral, poder político, nível salarial etc.
E, sobre os crimes sexuais, mais evidências: a violência doméstica ou os casos de violação, longe de subirem, desceram no Primeiro Mundo. Mesmo a gravidez adolescente, que a pornografia poderia promover, seguiu a mesma dinâmica descendente. O que resta?
O dano psicológico em adolescentes. Que é igualmente duvidoso (para dizer o mínimo). Se algum dano existe é o fato de a pornografia alimentar expectativas extravagantes na cabeça dos mancebos sobre o ato sexual propriamente dito. São expectativas que, opinião pessoal, a vida acabará por meter no seu devido lugar.
Para a "Economist", a única forma de responder à epidemia é com aulas de educação sexual, nas quais a pornografia servirá de pretexto para discussões mais alargadas sobre a igualdade de gênero, o uso de métodos anticoncepcionais e blá-blá-blá.
Com a devida vênia, discordo. Parcialmente, é certo, mas discordo. Se a pornografia é erradicável e se existe um "consenso mínimo moral" de que filmar o sexo não é o mesmo que um jogo de futebol, talvez a melhor forma de mostrar o lado "imoral" da fornicação cinéfila seja trazê-la para a escola, sim, desde que o fenômeno seja estudado como estudamos física, matemática, química e outras disciplinas "pesadas".
Imagino facilmente o currículo: o aluno teria aulas nas quais os grandes clássicos da indústria seriam visionados. De igual forma, um conhecimento rigoroso de atores, produtores, diretores seria de estudo compulsório, exatamente como estudamos a tabela periódica em química ou a anatomia humana em biologia.
E, sobre as cenas propriamente ditas, um pouco de estatística seria incontornável: o aluno deveria familiarizar-se com o número de posições; a duração de cada ato; e, obviamente, usar gráficos e tabelas para estabelecer comparações entre obras distintas.
No fim, tudo isso seria objeto de prova –de preferência, nacional– e com importância decisiva para entrar na universidade.
Depois desse processo de "normalização", só casos irrecuperáveis ainda teriam vontade para consumirem em privado as mesmas imagens que derreteram os miolos durante horas e horas de estudo repetitivo e entediante.
Vem nos livros: não há nada que mate o prazer proibido do que torná-lo obrigatório.