SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA o ótimo "Big Data: Uma Revolução que Transformará Vidas, Trabalho e Pensamento", de Viktor Mayer-Schonberger e Kenneth Cukier. Apesar do subtítulo grandiloquente, não se trata de um daqueles exageros bem ao gosto de editores.
A dificuldade de obter dados sempre foi um obstáculo para a ciência. Foi para contorná-la que desenvolvemos conceitos como amostragem e as ferramentas estatísticas para interpretá-los. Mas hoje, com o avanço das tecnologias da informação, é relativamente fácil armazenar quantidades antes inimagináveis de dados e analisá-los, descobrindo correlações das quais nem suspeitávamos.
As possibilidades são tremendas. Buscas no Google indicam com rapidez e precisão o avanço de epidemias, o Twitter diz quais filmes serão "blockbusters", sabemos até que é mais seguro comprar um carro usado laranja do que de outras cores (por alguma razão, seus donos são mais cuidadosos). Isso muda a forma de fazer ciência e de ganhar dinheiro.
O sucesso da Amazon (onde comprei meu "Big Data") está em oferecer ao cliente aquilo que o algoritmo diz que ele vai comprar. Funciona.
Os autores, embora reconheçam virtudes no "big data", não são evangelistas. Eles apontam os muitos riscos envolvidos. No plano epistemológico, vale lembrar que correlação não é causa e, para descobrir o porquê das coisas, ainda precisaremos de teorias e experimentos controlados.
Na seara da filosofia, as coisas são mais inquietantes. À medida que os modelos se sofisticam, ficam melhores em prever comportamentos. Já conseguimos identificar motoristas com maior probabilidade de provocar acidentes, pessoas mais propensas a ficar doentes e criminosos com mais chance de reincidir. Como devemos usar essas informações? Podemos punir preventivamente o sujeito que está prestes a cometer um delito? Será que a autonomia e o livre-arbítrio sobrevivem à era do "big data"?