Folha de S. Paulo


Maravilhosos ratos invadem São Paulo

Tenho hábito de caminhar pela cidade de São Paulo. Dificilmente deixo de ver uma imagem curiosa. Nenhuma raramente é tão curiosa quanto a que vi ontem ao final da tarde passeando pelo Anhangabaú: um sujeito deitado no chão coberto de ratos (veja aqui).

Quem estava no chão, coberto de ratos de borracha, era o artista plástico Eduardo Srur, famoso por suas intervenções na cidade de São Paulo --garrafas pets gigantes ou caiaques nos rios Pinheiros e Tietê, carruagens penduradas em pontes, prédios em construção transformados em obras de arte e labirinto de lixos.

Ele tirava fotos para mais uma instalação: um farol, desses que avisam os navegantes, coberto de ratos.

Os ratos fazem parte da exposição intitulada "Sonhos e Pesadelos", espalhada também pela Cracolândia, onde bicicletas foram penduradas no teto da estação Júlio Prestes e cataventos gigantes foram erguidos.

O cheiro que vem do Anhangabaú --hoje apenas um esgoto escondido pelo cimento-- é como se fizesse parte da instalação.

A única vantagem de nossa feiura urbana é que artistas como Eduardo estão transformando São Paulo numa galeria de arte a céu aberto.

A tal ponto que o Google decidiu, em seu projeto de museus virtuais pelo mundo, fazer das intervenções virtuais permanentes a marca da cidade de São Paulo. Até lançou um projeto experimental em que pessoas oferecem muros de suas casas para artistas pintarem --e está fazendo o maior sucesso. A ideia é levá-lo para o mundo.

Quando vemos na região central tanta sujeira, tanto lixo e tanta incompetência pública (o projeto da Luz está há dez anos no papel), concluímos que o farol dos ratos ilumina para o que somos. E a criatividade que poderemos ter.


Endereço da página:

Links no texto: