Folha de S. Paulo


Nosso futebol está nu

"O futebol brasileiro só evoluiu da boca do túnel para dentro do campo." Essa frase, cunhada por Flavio Costa, nosso técnico na Copa do Mundo de 1950, foi por muito tempo a definição mais precisa da modalidade aqui no Brasil.

Mas, agora, em 2013, a citação merecia um complemento, pois, além dos inúmeros problemas na administração, também passamos por um preocupante estado de estagnação nos gramados.

Depois do reinado de Ricardo Teixeira, a direção da CBF continua sendo uma tragédia. O presidente José Maria Marin e seu fiel escudeiro, Marco Polo Del Nero, são dois incompetentes de marca maior, que só sobrevivem no futebol porque utilizam dos piores métodos para continuar no poder. A especialidade deles sempre foi acreditar na política do toma lá, dá cá, da troca de favores, da intimidação e, em alguns casos, até chantagem consta na pauta.

Com perfis de ditadores, eles apostam em nomes de prestígio para ficar de bem com a opinião pública. Essa estratégia foi usada quando escolheram Luiz Felipe Scolari para comandar a seleção.

Eles tinham certeza de que o prestígio de Felipão seria capaz de fazer todos esquecerem as jogadas da dupla e que teriam mais tempo para se dedicarem a usufruir das benesses que os comandantes do futebol brasileiro têm. Só que o trabalho do treinador não tem alcançado sucesso até agora. E os maus resultados acabaram por deixar o técnico com fama de ultrapassado - adjetivo que caberia melhor ao próprio dueto formado por Marin e Del Nero.

Lógico que avançamos em alguns sentidos. Bem ou mal temos um calendário definido, o Campeonato Brasileiro ganhou força com os pontos corridos, a Série B do Nacional se transformou num torneio forte e até a Série C começa ganhar corpo.

Os clubes também estão arrecadando muito mais dinheiro agora, mas devido à incompetência dos cartolas vivem um momento de penúria. Todas as equipes têm um alto grau de endividamento, mesmo assim continuam gastando muito mais do que arrecadam. Algumas delas possuem débitos que nunca serão quitados, e não conseguem fazer o básico, que é pagar em dia os vencimentos de seus jogadores.

Boa parte do bolo financeiro do futebol brasileiro não chega aos clubes, pois fica na mão de aproveitadores. Desse grupo, além dos cartolas, agora também fazem parte empresários, consultores, assessores de marketing e os famosos gestores profissionais.

Enquanto perdíamos tempo discutindo o que acontecia nos bastidores, o futebol brasileiro dentro de campo desceu ladeira abaixo.

Não conseguimos mais fabricar craques. Hoje, mesmo com os clubes gastando uma fortuna em centro de treinamentos, não se revelam grandes jogadores, porque a preocupação é ganhar torneios de base e produzir jogadores cada vez mais fortes fisicamente e que possam ser vendidos para o exterior.

O jogador com melhor preparo físico sempre ganha espaço, e aqueles que têm talento ficam de lado. Paramos de revelar craques quando aceitamos que o jogador talentoso não sabe atuar coletivamente e sempre prejudica a arrumação tática das equipes. Infelizmente, no Brasil - já disse isso algumas vezes -, quem sabe jogar futebol constantemente é criticado.

Não podemos nos contentar apenas com os triunfos dos nossos clubes contra times medíocres da América do Sul, a construção de estádios modernos, os planos de sócio-torcedor e a realização da próxima Copa do Mundo no nosso país. Como na fábula "A roupa nova do rei", alguém precisa dizer que nosso futebol está nu.

Até a próxima!
Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Para Botafogo e Internacional, que podem, por antecipação, conquistar o Campeonato Carioca e Gaúcho, respectivamente. Ambos os times aproveitaram muito bem o fato de alguns de seus concorrentes estarem disputando a Taça Libertadores e concentrados apenas na competição estadual e dominaram os torneios de seus estados.

ERA PARA SER DESTAQUE
Em um momento que o futebol do interior de São Paulo agoniza, o Mogi Mirim merece ser citado, pela grande campanha que faz no Campeonato Paulista, em que conseguiu chegar às semifinais. Pena que, como sempre acontece com os times pequenos formados em parcerias com empresários, após o torneio o elenco deve ser desmontado.


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