Folha de S. Paulo


A razão da Ferrari

Havia várias razões para a Ferrari não segurar Raikkonen. E há uma que explica perfeitamente a renovação da escuderia com o finlandês.

Raikkonen não se engaja. Não veste a camisa. Não gosta de compromissos com patrocinadores. Não fala nas reuniões. Não suja a mão de graxa. Não desenvolve o carro. Não dá boas entrevistas. Não vive boa fase —tem menos da metade dos pontos de Vettel, 160 a 76.

Tudo isso jogou contra o campeão de 2007 nos últimos meses de negociações e boataria.

Por que ele ficou, então?

Porque é bom. Muito bom. Dos melhores. Mas principalmente por ter algo que não se cria em simuladores nem se aprende em gráficos de telemetria: talento nato.

É uma característica rara, historicamente sempre foi. Mais ainda agora, tenho a impressão, com tantos apoios tecnológicos à disposição.

Raikkonen pode até não trazer contribuições à equipe no dia-a-dia, no rame-rame, no varejo. Mas carrega um conhecimento intuitivo que faz bem a qualquer organização, de qualquer área, no longo prazo. Contribui no atacado.

O finlandês faz o dele, e se a equipe entender como extrair informações do seu trabalho, voilà.

A Ferrari entende. E está num processo de reconstrução, comandado de maneira competente por Arrivabene após as barbeiragens de Domenicali e Mattiacci.

Se tivesse pressa, se quisesse resultados instantâneos, talvez contratasse Bottas, Ricciardo ou Hulkenberg.

Não. A Ferrari quer voltar a ter o protagonismo de anos atrás. Pode até buscar um desses talentos emergentes daqui a dois ou três anos. São pilotos muito bons, em franco desenvolvimento.

Mas, antes, busca estofo, precisa construir uma base. E Raikkonen é importante nesse processo.

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Principal revista de automobilismo do mundo, a "Autosport" perguntou a dois de seus jornalistas se a Ferrari havia tomado a decisão certa.

O resultado é curioso.

O repórter Ian Parkes acha que sim. E cita como argumentos não apenas o talento do finlandês, mas informações técnicas da equipe que indicam que ele não deve nada a Vettel em termos de velocidade.

A diferença na tabela em relação ao alemão, acredita ele, está nos pequenos erros que o finlandês cometeu em alguns treinos classificatórios neste ano.

Já o editor Ben Anderson acha que a Ferrari errou. Diz que Raikkonen foi destroçado por Alonso em 2014 e que isso se repete com Vettel neste ano. E alega que a escuderia pensou menos nos resultados e mais no marketing ao segurar um dos cinco campeões mundiais em atividade.

Cada um com sua opinião, e que todos sejam felizes assim. Viva a democracia.


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