Folha de S. Paulo


Por um Mundial seguro

A ameaça de algumas equipes de boicotar o GP da Austrália não se concretizou por algumas razões. A mais importante delas, porque nunca existiu.

A "notícia" foi veiculada por uma revista esportiva alemã que costuma carregar nas tintas e, na era da internet, reproduzida mundo afora sem nenhuma checagem.

O suposto motivo seria uma suposta revolta das equipes com a real falta de informações da FIA sobre o real acidente de Alonso. Meias-verdades, muitas vezes, são suficientes para vender –até porque podem ser mais atraentes do que verdades inteiras.

O fato de a cascata ter sido "comprada" por tanta gente, porém, merece pensata: sua origem se deve ao ambiente deste início de temporada.

Na semana passada, o estúpido acidente de Bianchi fez cinco meses. O francês segue em coma. Em entrevista à "Gazzetta dello Sport", seu pai disse que os médicos lhe dão poucas indicações e que "pode ser que ele acorde, pode ser que não".

A FIA prometeu muito e fez pouco. Perdoem-me os que creem no poder sobrenatural das hashtags, mas pintar #forçajules em carros e capacetes não vai prevenir casos parecidos.

Antes tivesse ficado só nisso. A ausência mais comentada é outra. A F-1 tirou Alonso de circulação. Vento forte continua sendo a versão oficial da McLaren. Metade do paddock acredita, metade duvida. E a FIA? Nada.

Somem um caso e outro, e o resultado é um ambiente... esquisito.

Houve tempos em que isso era normal na F-1. Mortes em acidentes aconteciam com frequência, o medo estava sempre à espreita. Veio então um período de relativa tranquilidade, encerrado em Imola-94. A F-1 voltou a ter horror de si própria.

Seguiu-se novo período sem sustos, até que episódios externos marcaram o GP da Itália de 2001. Foi o grid mais soturno em que já pisei. Cinco dias antes, aviões derrubaram as Torres Gêmeas. Na véspera, Zanardi se arrebentou no muro de Lausitzring correndo pela Indy.

Lembro de Schumacher caminhando até o fundo do grid e conversando com os pilotos, pedindo uma largada sem exageros. Tudo o que a F-1 não precisava naquele momento era produzir uma nova tragédia.

É esta a sensação agora. Que seja um Mundial competitivo, bonito, emocionante. Mas, antes de tudo, que seja seguro.

A FIA precisa fazer sua parte. E mostrar que está fazendo.

SAUBER

Ciente do risco que corro de que tudo tenha mudado até este jornal chegar às suas mãos, sou capaz de apostar que Ecclestone bancará a escolha de Sauber por Nasr e Ericsson. O inglês não gosta quando poderes externos se intrometem na sua F-1.

Mas, nos bastidores, a equipe suíça levará uma descompostura de perder o rumo. Porque outra coisa que ele detesta é palavra desonrada.


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