Folha de S. Paulo


Fantasma no coração mundial

São Paulo - O aumento da inflação nos Estados Unidos provocou um arrepio nos mercados financeiros na sexta-feira. Em abril, os preços subiram 0,7%, a maior taxa desde 1990. Em março a alta tinha sido de 0,2%.
O número inesperado fez com que analistas passassem a considerar provável a elevação dos juros e, em consequência, as Bolsas caíram em quase todo lugar. Os títulos do governo norte-americano também sentiram o baque e enfrentaram a maior queda em quase três anos.
Será esse o primeiro sinal do fim da era de "exuberância irracional" no coração do mundo? Os otimistas argumentam que o dado refletiu apenas o avanço nos preços do petróleo, causado pela redução deliberada da oferta, e que não se repetirá.
Os pessimistas enxergam pressões inflacionárias em várias áreas e consideram inevitável uma puxada nos juros para frear a economia. Com prejuízo certo para toda a periferia, Brasil incluído. Seria mais uma rodada para definir o jogo de ganha-perde mundial. Com os EUA, mais uma vez, ganhando.
Afinal, como donos da bola neste século, eles conseguiram fazer com que quase todos os países trabalhem para melhorar a vida nos Estados Unidos. Os números desta década pós-Muro de Berlim mostram os resultados.
Nestes anos de administração Clinton, o desemprego caiu de 6,9% para 4,3%; o Orçamento saiu de um déficit de U$ 255 bilhões para um superávit; e a Bolsa de Nova York saltou de 4.000 para 11.000 pontos, recorde histórico. Na maior parte do resto do mundo, os dados apontam para a estagnação.
Agora o fantasma da inflação volta a assombrar e pode causar a interrupção do mais duradouro ciclo de expansão do pós-guerra. Para o Brasil, isso significaria mais juros, menos exportação, crescimento comprometido.
Isso tudo se a dolarização -o nosso fantasma de plantão- não for um "fato consumado", como defendeu o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus. Se for, mergulharemos ainda mais fundo -e sem oxigênio.


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