Folha de S. Paulo


Aniversários no sufoco

São Paulo - Depois da torrente de publicidade, todos lembraram que o Real completou quatro anos na última semana. O presidente assoprou velinhas de bolo em forma de moeda e tomou café com pão e manteiga em padaria no subúrbio de Brasília.
Na panificadora, pagou quase a mesma quantia que pagara em 95 pelo lanche, feito sob medida para as câmeras. FHC recebeu troco de menos, mas não ligou. O dono do lugar elogiou o presidente, mas reclamou do desemprego e de queda nas vendas.
Ao mesmo tempo, começaram a circular as novas moedas do Real. Para produzi-las, o governo comprou tecnologia de empresa canadense. Para que elas chegassem ao público no dia da festa oficial, foi agilizada a importação de chapas metálicas.
Os factóides do aniversário formam um retrato do país pós-Real: inflação estável, desaceleração da economia, desemprego, importações. O presidente promete mais crescimento -se a crise asiática deixar. Até agora, suas projeções não se realizaram.
O desenvolvimento abaixo do esperado põe o país no sufoco. Infla o índice de desemprego, que quase dobrou nos últimos sete meses. A inadimplência bate recordes e -última notícia da semana- as montadoras param de produzir por falta de compradores.
Apesar de enredado nas turbulências externas, o governo esqueceu outro aniversário da semana: faz um ano que a Tailândia desvalorizou sua moeda e detonou o início da derrocada do exaltado modelo asiático.
De lá para cá, as economias da região estão em processo de liquidação. Uma ditadura de três décadas foi derrubada, o caos russo se acentuou e a segunda maior potência do mundo entrou em depressão.
No primeiro aniversário da volta de Hong Kong à China, também na semana passada, Clinton visitou o país e insinuou que ele pode ocupar o lugar do Japão na liderança oriental. Será uma saída para a crise? Será motivo de comemoração? Sairemos do sufoco?


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