Folha de S. Paulo


O silêncio do empresariado o torna cúmplice por omissão

A prisão de Joesley Batista e de seu comparsa Ricardo Saud corrige o erro da Procuradoria Geral da República de conferir virtual impunidade a um notório criminoso.

Agora, é preciso que os pares dos Batista e dos Odebrecht no empresariado corrijam o erro de manter o indecente silêncio em torno das atividades criminosas que a Lava Jato está expondo com as cores mais fortes possíveis.

O que chama a atenção nessa novela trágica brasileira é o fato de que, no lado empresarial do balcão da corrupção, estejam envolvidos pesos pesados, dos mais pesados aliás. Se fossem apenas funcionários de segunda linha que se aproveitam da eventual falta de controle em empresas gigantescas, ainda seria possível inocentar o capitalismo brasileiro.

Mas, quando são os próprios donos de mega-empresas que fazem da corrupção o modo de operar de seus negócios, não há salvação. Que adianta criar departamentos que agora se chamam de "compliance", se os próprios donos não cumprem com deveres éticos elementares?

O pior é que esses delinquentes não são desautorizados por seus pares no empresariado, nem sequer moralmente. Até políticos, uma raça muito mais suspeita, são, de vez em quando, expulsos de suas corporações.

Por que as entidades de classe do empresariado não expulsam de seus quadros os "notórios bandidos", como até o presidente Michel Temer qualificou Joesley Batista, mesmo tendo com ele uma relação tão próxima que o recebeu em casa, escondidinho, para uma conversa nada republicana?

Se nenhum dos presos da Lava Jato, no âmbito empresarial, faz parte de entidades representativas de seus respectivos setores, o empresariado deveria ao menos estender um cordão sanitário em torno da convivência social com essa gente.

Sou capaz de apostar que uma penca de pesos pesados do empresariado aparece em fotos em alegres convescotes com os Batista e/ou os Odebrecht.

É profundamente sintomático do ambiente podre que os envolve o fato de os tais mercados terem festejado com altas a reviravolta no caso da denúncia da JBS, no pressuposto de que a derrapada da PGR enfraqueceria o caso contra o presidente Temer.

Posto de outra forma: em vez de torcer para que eventuais crimes sejam apurados, os tais mercados apostam na impunidade.

Não me venham dizer que, anulados os benefícios da delação premiada de Joesley Batista, desaparece a mala com dinheiro carregada por Rodrigo Rocha Loures. Nem desaparece o fato de que Temer designou Rocha Loures como seu interlocutor junto à JBS.

Tampouco desaparece o fato de que quase todos os homens do presidente estão denunciados como membros de uma "organização criminosa". Em qualquer país com padrões mínimos de decência, o fato de um presidente estar cercado de suspeitos e de suas malas de dinheiro levaria, no mínimo, a processá-lo também.

Que o empresariado conviva alegremente com essa gente só faz aumentar a podridão ambiente. Nesse cenário, a omissão pelo silêncio é cumplicidade.


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