Quando você acompanha o noticiário econômico e vê que os juros no cartão de crédito podem chegar a quase 400% ao ano, possivelmente deve ficar refletindo sobre o motivo de as pessoas se endividarem tão facilmente nessa modalidade de crédito.
Bom, há um fator emocional que conta muito nesse aspecto e que deve ser levado em consideração. Pesquisa recente feita pelo SPC Brasil e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) apontou que 48% dos consumidores inadimplentes sentem vergonha de suas dívidas.
O efeito pode ser ainda mais impactante, tendo em vista que 43% dos entrevistados com dívidas atrasadas por mais de três meses disseram que sentiram a autoestima abalada. Além disso, 31% dos endividados disseram ter receio de atender o telefone e 39% sofrem de insônia.
Agora vejamos a seguinte situação: um empréstimo pessoal tem, em média, juros em torno de 62% ao ano, taxa bem mais baixa na comparação com o cartão de crédito (395%) e com o cheque especial (268%). No entanto, para pegar um empréstimo pessoal é preciso ir até um gerente.
Na hora da avaliação pessoal, ele vai ver o registro de dívidas passadas e isso pode ser motivo de constrangimento, tendo em vista os resultados apontados pelo SPC e a CNDL.
O cheque especial e o cartão de crédito, por outro lado, são moldados para ter esse procedimento "indolor". O saldo em conta corrente zerou? Está lá o cheque especial à disposição. Do mesmo modo, quando a fatura do cartão de crédito chega e você se assusta por ser alta demais, aquele recadinho no caixa eletrônico do banco incentivando você a fazer o pagamento mínimo parece ser bem atraente.
Em alguns casos, o banco ainda tem a "cordialidade" de fazer a sugestão, alegando que o pagamento mínimo dá a você mais fôlego financeiro.
Nós sabemos que não passa de papo furado. É uma armadilha batida, que leva direto ao crédito rotativo, com os juros altíssimos que citamos acima. Ainda assim, infelizmente, a pegadinha ainda faz muitas vítimas. Se existe uma coisa notória no mercado de crédito é que nenhum tipo de praticidade sai de graça.
O ditado "quando a esmola é demais, o santo desconfia" não poderia fazer mais sentido neste contexto. Dados do Banco Central mostram que as famílias brasileiras comprometem praticamente metade daquilo que ganham com dívidas. É uma cultura financeira que certamente precisa de grandes transformações, mas é preciso ter em mente que organização e planejamento financeiro são capazes de acabar com o orçamento no vermelho.
Usar a vergonha como máscara leva você a adiar a decisão em renegociar e impede a busca por um crédito mais barato, em vez de se enrolar com o cartão e o cheque especial. Enfim, o sentimento negativo só ajuda a aumentar a bola de neve. Levante a cabeça e coloque suas contas em ordem. Acredite, o sistema financeiro não sente vergonha alguma em engolir toda a sua renda com juros.