Os eleitores de São Paulo vão hoje às urnas castigados pela falta de debate entre Paulo Maluf e Luiz Antônio Fleury Filho. Votam sem saber como a coisa de fato degringolou. Acabaram tungados no direito democrático de vê-los frente a frente. Apesar do esforço de alguns jornais -principalmente esta Folha–, não se sabe com certeza os nomes (ou o nome) dos verdadeiros culpados pela não realização do evento. O episódio afundou de vez a política paulistan. De quebra, confirmou a fragilidade e subserviência da televisão brasileira. Estranhamente nenhuma emissora teve força suficiente para fazer Fleury debater com Maluf. O SBT tentou alguma coisa sozinho, sem sucesso. E a imprensa paulista ainda deve investigação inequívoca do acontecido -sob pena de se deparar mancomunada com a grande farsa do debate que não houve.
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Recebi reclamações de leitores em relação à manchete de quinta-feira. "Fleury cai, Maluf sobre a 3 dias da eleição". À parte o conteúdo político de algumas queixas - peemedebistas dizendo que a manchete favorecia injustamente Maluf-existe problema técnico no enunciado. Qual foi o movimento da pesquisa? Maluf passou de 37% de intenções de votos para 39%, ganhando dois pontos percentuais. Fleury saiu dos 46% na pesquisa anterior para 45%, perdendo um ponto percentual. A rigor, os movimentos estavam dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais. Jornalisticamente, o mais significativo era a diminuição da diferença entre os candidatos. Era de nove pontos percentuais e passou para seis pontos. Na diferença registrou-se a "queda" de três pontos percentuais. Discuto, do ponto de vista da técnica da edição de pesquisa, é o uso dos verbos "cair" e "subir" para movimentos tão pequenos, quando estão em jogo porcentagens mínimas: um ponto de "queda" para Fleury e dois pontos de "subida" de Maluf. Nesse sentido, é menos ruim o título interno, no caderno "2º turno": "Vantagem de Fleury cai para 6 pontos". Ficaram exagerados o cai e sobe da manchete.
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Se na quinta-feira a manchete foi positiva para Maluf, na quarta-feira a edição do noticiário sobre o último comício de Fleury em São Paulo, na Praça da Sé, foi exatamente bondosa com o candidato peemedebista. Numa situação hipotética, caso fosse o comício de encerramento de candidato petista, tenho certeza, seria feita medição do local pela Folha e cômputo do público. Se o PT levasse à Sé os mesmos 30 mil que o PMDB diz ter levado, sem dúvida nenhuma o título iria na linha do "fracassa o último comício..." Pois a Folha não fez a medição dos presentes no comício do Fleury e sequer se espantou com fato incomum: tanto a política quanto os organizadores concordaram na cifra das 30 mil pessoas na praça, dado sequer mencionado na chamada de capa. Destacou-se ali apenas o fato de Leonel Brizola ter subido ao palanque.
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Por falar em PT, a Prefeitura de São Paulo foi vítima de título errado na Folha, a assessoria da prefeita Luiza Erundina solicitou retificação e acabou levando em troca resposta na qual não se reconheceu o equívoco. Sábado retrasado saiu reportagem sobre a inauguração de hospital em Campo Limpo. "Erundina inaugura hospital sem funcionários", dizia a manchete no alto de página em Cidades. No texto, os leitores ficavam sabendo que o hospital foi inaugurado com 1.200 funcionários -40% do total necessário. O assessor de imprensa da prefeitura mandou carta prontamente abrigada no Painel do Leitor (dia 21). Seguiu-se Nota da Redação injusta: "A carta, que confirma todas as informações da reportagem da Folha, faz o favor de denunciar com ainda mais dramaticidade a situação da Prefeitura de São Paulo". Não, a carta não confirmava, por exemplo, o título. Ele estava errado em confronto com o conteúdo da própria reportagem.
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Acaba de ser editada a tradução do livro de Janet Malcolm, "O jornalista e o assassino" (Companhia das Letras, Cr$ 1.990), solene bofetada na empáfia com que a maioria dos profissionais de imprensa encara a carreira. A jornalista Janet Malcolm investiga, discute e faz ponderações sobre questão ética crucial: deve o jornalista revelar ao entrevistado seu estado de espírito, sua atitude, sua opinião sobre o assunto no qual trabalha? Vale a pena reproduzir dois trechos iniciais do livre: "Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável". Ou então: "Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do direito do público a saber; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida".
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Conforme prometido aqui em maio, o ombudsman está enviando questionários para algumas pessoas entrevistadas pelo jornal. Nas "Diretrizes para ombudsmen", documento aprovado pela Organização dos Ombudsmen da Imprensa (ONO) em 1982, se explica que um dos instrumentos de que o ombudsman dispõe para chegar a seus objetivos ("aperfeiçoar a equidade, exatidão e responsabilidade do jornal, aumentar sua credibilidade; melhorar sua qualidade") é o uso de questionários. Foi a jornalista Sue Ann Wood, Advogada dos Leitores do "St. Louis Post-Dispatch", do Missouri, quem desenvolveu o uso de questionários a personagens de notícias para conferir a qualidade do trabalho. Alguns dos entrevistados da Folha já receberam questionário perguntando sobre a condução e apresentação da entrevista. Ali se questiona se as declarações foram reproduzidas com fidelidade, se o título está de acordo com o conteúdo, se o jornalista estava preparado para a tarefa etc. O material, quando expressamente aprovado pelo entrevistado, retorna à Redação para discussão e análise. O intuito é colaborar com os jornalistas na busca e apresentação da informação correta.
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Já está circulando o primeiro dos cadernos regionais e diários da Folha, empreendimento inédito no jornalismo brasileiro. Os leitores da região de Campinas têm agora algo mais no seu exemplar. São notícias locais com a marca desta casa. Antes mesmo dos cadernos começarem a circular sentiu-se saudável movimento de jornais do interior criando novas edições, ampliando redações e melhorando salários. É a concorrência benéfica para os consumidores dos jornais locais. E se a iniciativa da Folha ajudar na melhoria de qualidade da imprensa do interior será bom para todos. Em relação aos exemplares do "Sp-sudeste" desta semana apenas uma crítica: estavam muito campineiros, centrados em Campinas. Têm razão de reclamar mais presença para suas cidades os leitores de Americana, Atibaia, Bragança Paulista, Jundiaí, Limeira, Rio Claro, Santa Bárbara do Oeste, São João da Boa Vista...