Folha de S. Paulo


Montanha-russa

BRASÍLIA - Na montanha-russa da crise brasileira, um dia tem sido tempo suficiente para transformar derrotados em vitoriosos -e vice-versa. Na quarta, governo e oposição viam o impeachment na esquina. Ontem, Dilma Rousseff ganhou dois trunfos para lutar pelo mandato.

A presidente colheu a primeira boa notícia na Câmara, onde o aliado Leonardo Picciani retomou a liderança do PMDB. Depois comemorou outra vitória no Supremo Tribunal Federal, que desmontou o rito de Eduardo Cunha para destituí-la.

O tribunal derrubou os principais pontos do voto do relator Luiz Fachin, apresentado na véspera. Os ministros determinaram que a Câmara faça nova eleição para a comissão especial do impeachment, desta vez à luz do dia e com voto aberto.

Isso desmancha o grupo armado por Cunha em sintonia com o vice-presidente Michel Temer. Com ajuda do voto secreto e das traições na base, eles haviam formado uma comissão de maioria pró-impeachment. Agora o governo terá chances de virar o jogo antes do apito inicial.

O Supremo também decidiu que os senadores poderão arquivar o processo contra Dilma por maioria simples, mesmo que dois terços dos deputados votem para afastá-la. Assim, a House of Cunha não terá plenos poderes para derrubar a presidente.

O governo respira, mas pode pagar um preço alto pelo oxigênio em 2016. A partir de agora, seu futuro passa a depender cada vez mais do senador Renan Calheiros, cujos humores costumam dar tantas voltas quanto uma montanha-russa.

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A PM de Geraldo Alckmin tem um modo peculiar de contar manifestantes. Quando o protesto agrada, multiplica. Quando desagrada, divide.

Na quarta, a polícia informou que apenas 3.000 pessoas foram à avenida Paulista gritar contra o impeachment. Ontem, desmoralizada pelas imagens do ato e pelo Datafolha, revisou a conta para 50 mil.


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