Folha de S. Paulo


Engolindo o Velho Lobo

RIO DE JANEIRO - É duro recordar: o Brasil já esteve numa Copa do Mundo –a de 1990, na Itália– comandado por um homem chamado Sebastião Lazaroni. Saímos eliminados pela Argentina, nas oitavas, gol de Caniggia, depois de jogada espetacular de Maradona. Foi um trauma. Diante do eterno 7 a 1 parece pouco, mas me arrisco a pensar que a atual indigência do futebol brasileiro guarda origens naquela derrota.

Lazaroni tinha fama de cabeção das pranchetas. Na verdade era um aluno-decoreba, capaz de dizer coisas como "a arte é um requinte que se pode usar a cada momento. No entanto, só com arte não se ganha mais títulos". Tampouco ganhamos com o esquema 5-3-2, com inacreditável líbero fixo, que ele inventou.

Apesar das duas conquistas mundiais pós-Lazaroni, o mal estava feito. Contra qualquer sinal de inovação tática, os cartolas da CBF adotaram a postura dos patriarcas do tri (Zagallo, Parreira), do "paizão" (Felipão) ou do "tiozão" (Dunga). Aqueles que, supostamente, falariam a linguagem pura e simples da bola. Do resto, nossos craques dariam conta.

Pois agora, que não temos mais craques (salvo Neymar) e a bola virou sua excelência, faltam os estudiosos do jogo, como há exemplos de sobra na Argentina –o agitado Jorge Sampaoli, campeão da Copa América pelo Chile, é um deles.

Não surpreende, portanto, o "sincericídio" de Daniel Alves: o catalão Pep Guardiola desejou treinar a seleção e tinha até um projeto para levantar o caneco no Maracanã. Guardiola, além de estrangeiro, é um dos maiores inovadores recentes do esporte. Jamais serviria à CBF. Esta já reagiu à altura: chamou Zagallo, o Velho Lobo, para consultor-geral e criou um conselho de notáveis do qual farão parte Leão, Carlos Alberto Silva, Candinho, Ernesto Paulo e... Sebastião Lazaroni. Vamos ter de engolir todos eles.


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