Eu tinha um sonho antigo de vir a Tóquio, onde estou, mais do que tudo, para comer e beber. É vergonhoso admitir, mas passei meses acionando amigos e conhecidos bem-conectados no Japão, pedindo ajuda para conseguir lugar em meia dúzia de restaurantes elogiados tão efusivamente que chegam a parecer paradisíacos.
Margaret Lam, a @little_meg_siu_meg, a mais obcecada "foodie" da face da Terra, alimenta seus 71 mil seguidores com incessantes posts de comida. No dia último 16 mesmo, ela metralhou uma série de fotos de um desses paraísos, citando, na legenda, que era a 33ª vez que jantava ali.
Antes, deixou-me desolada com o e-mail que me mandou um mês atrás. "Esses restaurantes da sua lista estão lotados desde o ano passado e, infelizmente, não terão nenhuma vaga até o fim deste ano", escreveu-me.
Risquei os sushis míticos, como o Saito e o Sawada, da lista —mas, teimosa, segui tentando outros. Aprendi que os melhores restaurantes só atendem a pedidos de mesa feitos por japoneses. E que um jeito de contornar esse obstáculo é reservar um quarto em hotel cinco estrelas e, logo em seguida, enviar e-mail ao concierge pedindo que reserve lugar nos restaurantes x, y ou z. "Geralmente, nossos hóspedes fazem suas requisições com um ano de antecedência", diz Masako Ito, concierge-chefe do hotel Ritz-Carlton, em Roppongi.
E ai de quem diz que vai e depois dá o cano: cobra-se multa alta que pode chegar ao preço total do jantar!
Tóquio é a meca dos "food victims", dos estrangeiros que perdem horas "googlando" os locais onde jantarão e, mesmo assim, perdem-se pelos labirintos e prédios em que se escondem os venerados chefs. Onde quem atrasa 15 minutos perde a mesa tão batalhada. Até eu, louca que sou por comida, acho que tanto esforço beira o ridículo. Planejar almoços e jantares com um ano de antecedência? Embaraçoso.
Se não consegui lugar nos balcões dos cinco restaurantes mais reverenciados de Tóquio, dei jeito de jantar em outros superdisputados, como o Tempura Kondo e o Sushi Ya. Achei ótimos, mas guardo melhor lembrança dos maravilhosos morangos e ovas de salmão que comprei e comi no quarto, e do soba (macarrão) do Kyourakutei e do Ingoya, lugarzinhos que não aceitam reservas. Tóquio dá muitas lições