Folha de S. Paulo


Pesquisas buscam maior qualidade de vida para paraplégicos e tetraplégicos

No Brasil, grupos de pesquisa trabalham com outras estratégias para tentar recuperar a mobilidade de pacientes com lesão na medula espinhal.

Alberto Cliquet Jr., coordenador do Laboratório de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor, da Unicamp, e do Laboratório de Biocibernética e Engenharia de Reabilitação, da USP em São Carlos, desenvolve sua pesquisa em torno da recuperação de lesados medulares há mais de duas décadas.

O tratamento envolve a aplicação da Estimulação Elétrica Neuromuscular numa região conhecida como lombossacral, na parte mais baixa da medula, onde se localizam as raízes motoras.

A estimulação repetida para a realização de tarefas como caminhar alguns metros ou pegar um objeto acaba gerando uma reconexão do corpo com o cérebro. "Nesse processo ocorre ganho de sensibilidade e ganho motor", diz Cliquet.

O pesquisador diz que é difícil estimar um tempo de recuperação, que vai depender do tipo de lesão e do empenho do paciente.

"Já conseguimos fazer pessoas andarem voluntariamente [sem a estimulação neuromuscular] com o auxílio de muletas e andadores. Mas não há milagre: a recuperação não é fácil e depende de cada caso."

Nos EUA, um grupo que trabalha com a estimulação elétrica na reabilitação de pacientes paraplégicos tem mostrado bons resultados. No mês passado, quatro pacientes jovens que haviam recebido um eletrodo implantado nas costas puderam mexer os dedos dos pés, levantar as pernas e ficar em pé.

Cliquet não é um entusiasta do uso de vestes robóticas. O cientista não enxerga nenhum propósito terapêutico nesse tipo de estratégia.

"A recuperação de um lesionado medular é muito mais complexa do que apenas dar passos ou chutar uma bola.

Nosso grupo consegue fazer com que as pessoas recuperem o movimento, mas a terapia que empregamostambém tem como consequência um ganho de qualidade de vida enorme: com melhora da condição cardiorrespiratória, ganho de força e de massa óssea, por exemplo."

CÉLULAS-TRONCO

A opinião é compartilhada por Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador do Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, na Bahia.

"Sem o exoesqueleto, a pessoa continua com os mesmo problemas que tinha antes", diz.

Ribeiro dos Santos lidera um projeto que utiliza células-tronco injetadas na medula lesionada com o objetivo de recuperar parte da circuitaria nervosa afetada nesses pacientes. Em 2011, um policial militar paraplégico conseguiu mexer as pernas após a terapia.

A primeira fase do tratamento experimental, com 14 pacientes paraplégicos, foi concluída recentemente. O procedimento envolveu uma pequena cirurgia para limpar o local da lesão e prepará-la para aplicação daschamadas células-tronco mesenquimais, que possuem importante papel no estímulo ao crescimento de novos nervos.

"Todos os pacientes apresentaram alguma melhora na qualidade de vida e alguns conseguiram se locomover com andador", diz Ribeiro dos Santos.

A pesquisa, que conta com o apoio da Fiocruz da Bahia, iniciará em breve uma nova fase, que terá 60 pacientes. O grupo tenciona usar técnicas de imagem para encontrar o local da lesão e realizar a injeção das células-tronco sem a necessidade de cirurgia.

Isso permitirá que os pesquisadores realizem três aplicações de células-tronco com intervalos de um a dois meses –na primeira fase, houve apenas uma aplicação– o que, espera Ribeiro dos Santos, deve aumentar as chances de sucesso do tratamento.


Endereço da página: