Folha de S. Paulo


Em feito inédito, 4 africanos são finalistas no Booker International; veja 6 livros do continente publicados no Brasil

Dos quatro autores africanos finalistas do prêmio Man Booker International, que será divulgado nesta terça (19), apenas o moçambicano Mia Couto (que escreve em português), tem suas obras publicadas no Brasil, pela editora Companhia das Letras.

Para ler as obras dos outros três, da sul-africana Marlene van Niekerk, do líbio Ibrahim Al-Koni ou do congolês Alain Mabanckou, é preciso se arriscar em inglês —ou então em africâner, língua derivada do holandês, em árabe ou em francês, respectivamente.

Ainda são poucos os autores do continente publicados no Brasil. "É uma pena que o Brasil não tenha podido se ocupar da literatura africana, porque a África sempre teve uma admiração pelo Brasil," afirma Mabanckou à Folha, por telefone. "É inaceitável pensar que nossa literatura não esteja por lá, mas eu espero que isso mude com o tempo."

No entanto, nos últimos anos, vários escritores africanos, de diversas tradições, países e línguas têm sido publicados no país. Veja X livros de literaturas africanas que é possível encontrar no Brasil.

1. O Mundo se Despedaça - Chinua Achebe - Nigéria
R$ 42 - ed. Companhia das Letras, 144 págs.

Único africano a ser laureado com o Man Booker International, em 2007, o nigeriano Chinua Achebe (1930-2013) publicou "O Mundo se Despedaça" originalmente em 1958, em inglês. No Brasil, a tradução da obra, que se passa na Nigéria do fim do século 19, antes da independência, chegou apenas em 2009.

2. Terra Sonâmbula - Mia Couto - Moçambique
R$ 41, ed. Companhia da Letras, 208 págs.

Mia Couto é considerado um dos maiores, senão o maior, escritor de Moçambique. Filho de colonos portugueses, foi militante da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e trabalhou como jornalista antes e depois da independência. Seu livro mais famoso é "Terra Sonâmbula", de 1992, que conta a história do velho Tuahir e do menino Muindinga, em fuga da guerra civil (1977-1992) que assola o país.

No Brasil, Mia tem 17 títulos publicados e vendeu mais de 350 mil livros.

3. Os da Minha Rua - Ondjaki - Angola
R$ 32 - ed. Língua Geral, 168 págs.

No livro do escritor angolano, as 22 pequenas histórias de criança recriam a vida em Luanda nos anos 1980 e 1990, capital do país, que, como Moçambique, viveu em guerra civil desde sua independência, em 1975, terminando só em 2002.

Carlos Cecconello - 30.jun.2010/Folhapress
Ondjaki, escritor, poeta e prosador angolano, posa para foto, em São Paulo
Ondjaki, escritor, poeta e prosador angolano, posa para foto, em São Paulo

4. Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie - Nigéria
R$ 54, ed. Companhia das Letras, 520 págs.

A escritora nigeriana, de 37 anos, conta neste romance a história de Ifemelu, uma jovem que vai morar nos Estados Unidos e cria um blog sobre a questão racial, e que, dez anos depois, decide retornar à África. Publicado em 2013, o livro ganhou o prêmio americano National Book Critics Circle de ficção.

Não é apenas em "Americanah" que Chimamanda trata de assuntos sociais, como a questão racial. Em 2015, chegou ao Brasil "Sejamos Todos Feministas", a versão escrita de um discurso apresentado por ela em 2012. Ela, que veio ao Brasil em 2008, para a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), afirmou que o país "está em negação sobre o debate racial".

5. Muito Longe de Casa - Ishmael Beah - Serra Leoa
R$ 24,90, ed.Companhia das Letras, 256 págs.

O livro do serra-leonês Ishmael Beah não é uma ficção —embora ele tenha publicado uma, "O Brilho do Amanhã", em 2015, sobre o pós-guerra e sim suas memórias do tempo que passou como menino soldado na guerra civil de Serra Leoa, pequeno país da África Ocidental, que durou de 1991 a 2002.

Aos 13 anos, depois de vagar um ano pela selva com um grupo de meninos, Beah foi recrutado pelo exército para combater os rebeldes do RUF (frente unida revolucionária); ele só sairia da guerra em 1997, resgatado pela Unicef.

6. O Último Amigo - Tahar Ben Jelloum - Marrocos
R$ 30, ed. Bertrand Brasil, 128 págs.

O escritor, expoente da literatura magrebina como o líbio Ibrahim Al-Koni, indicado neste ano para o Man Booker International, tem uma extensa obra publicada em francês. No Brasil, no entanto, só três de seus livros foram publicados, pela Bertrand Brasil, selo editoral da Record.

Em "O Último Amigo", Jelloum acompanha a trajetória dos amigos Ali e Mamed, que se conhecem no ensino médio, na Tânger dos anos 1950.

Bertrand Guay - 3.jan.2007/AFP
O escritor marroquino de expressão francesa Tahar Ben Jelloun posa para foto, em Paris
O escritor marroquino de expressão francesa Tahar Ben Jelloun posa para foto, em Paris

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