Folha de S. Paulo


Cassini sobrevive à primeira viagem sob os anéis de Saturno; veja as fotos!

Salvador Nogueira

Na última quarta-feira (26), a sonda Cassini fez seu primeiro mergulho no estreito vão entre os anéis e o topo da cobertura de nuvens de Saturno, numa audaciosa travessia que marca o início da etapa final de sua missão. E agora a Nasa comunica que a manobra foi realizada com sucesso, trazendo as imagens mais próximas já feitas do globo saturnino.

O mundo prendia a respiração pelo sucesso do procedimento, que foi até mesmo objeto de uma animação na página de abertura do Google na quarta.

A comunicação com a sonda  e a confirmação da manobra bem-sucedida  só veio às 3h56 desta quinta (27), e a transmissão dos dados começou às 4h01 (pelo horário de Brasília). As imagens apresentadas, portanto, estão em seu estado cru, ou seja, sem qualquer pós-processamento feito em solo. Mas revelam detalhes estonteantes da atmosfera de Saturno, que certamente interessam e muito aos cientistas.

A razão para o longo atraso entre a travessia e a retomada das comunicações é que o controle da missão resolveu ser extra cauteloso nessa primeira visita a essa região inexplorada, potencialmente cheia de pequenas partículas provenientes dos anéis.  Na aproximação máxima de Saturno, a Cassini atingiu uma velocidade de estonteantes 124 mil km/h com relação ao planeta, e qualquer colisão com uma partícula, dependendo de onde pegasse, poderia ser fatal. Para evitar um risco maior, a sonda mergulhou usando sua antena principal como um escudo, apontada na direção de seu movimento, protegendo a eletrônica mais sensível. E, com esse apontamento, era impossível manter contato com a Terra.

Nenhuma espaçonave voou tão perto de Saturno antes. Só podíamos depender de predições, baseadas em nossa experiência com os anéis mais externos de Saturno, do que pensávamos que esse vão entre os anéis e Saturno seria, disse, em nota, Earl Maize, gerente do projeto no JPL, Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. Estou encantado em reportar que a Cassini se atirou através do vão exatamente como planejamos e saiu do outro lado em excelente forma.

Imagens não processadas e recém-transmitidas pela Cassini após seu primeiro mergulho sob os anéis de Saturno (Crédito: Nasa)

A Cassini passou a cerca de 3.000 km do topo das nuvens saturninas (nas nuvens, a pressão atmosférica já é equivalente à que encontramos na Terra ao nível do mar), e a apenas 300 km da faixa mais interna visível dos famosos anéis. Em seu Grand Finale, nome que os cientistas deram à etapa final da missão, a Cassini repetirá esse feito audacioso 22 vezes, ao ritmo de uma por semana. A próxima passagem será no dia 2 de maio. E, na última delas, em 15 de setembro, a sonda mergulhará de vez na atmosfera de Saturno, para nunca mais ser vista.

Nesse meio tempo, os cientistas da Nasa esperam extrair novas descobertas sobre a estrutura interna de Saturno e de seus anéis, graças à geometria de suas últimas órbitas. A missão, que chegou ao segundo maior planeta do Sistema Solar em 2004, está sendo encerrada por falta de combustível e precisa ser destruída para evitar contaminação acidental das luas saturninas que têm potencial biológico, como Encélado e Titã.

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