Entrevista da 2ª Benjamin Steinbruch
Não sei em quem votarei ainda; posso até 'dilmar'
Após sinalizar simpatia por Marina, dono da CSN fala de apoio A petista; empresário que declara SEU voto é perseguido, diz
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
Nas últimas semanas, Benjamin Steinbruch demonstrou em entrevistas e conversas privadas simpatia pela candidata a presidente pelo PSB, Marina Silva. Agora, resolveu modular essa interpretação. "Meu voto é a favor das mudanças", afirma.
Mas pode votar em Dilma Rousseff? Nesta entrevista à Folha e ao UOL, o empresário afirmou: "Não sei em quem vou votar ainda. Posso até dilmar'. Desde que atendidas algumas mudanças".
Para o presidente da Fiesp e dono da Companhia Siderúrgica Nacional, empresários podem sofrer perseguição "de toda ordem" se declararem abertamente o voto.
Steinbruch tem negócios imbricados com o governo federal, como a concessão da ferrovia Transnordestina, com 1.750 km de extensão.
Seu recuo ocorre depois de ele ter começado a falar de maneira mais explícita sobre eventuais qualidades de Marina. Na semana passada, o Planalto enviou recados ao empresário, dizendo que a presidente estava desapontada com suas declarações.
O mal-estar passou. Nesta segunda-feira (29), às 10h, Steinbruch será um dos anfitriões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que falará a dezenas de empresários na sede da Fiesp. A seguir, trechos da entrevista, realizada na última quinta-feira (25):
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Folha/UOL - O ministro Guido Mantega diz que o sr. está "redondamente equivocado" quando afirma que "só louco investe no Brasil". O que o sr. acha que ele quer dizer?
Benjamin Steinbruch - Que as coisas estão boas em termos de condições para investimento no Brasil. Justamente aquilo que a gente não acha. O Guido é superesclarecido, não tenho a menor dúvida disso. Aqui, para você fazer um investimento, tem que ser muito persistente para vencer todas as etapas burocráticas. O ministro sabe dessa realidade.
Dilma Rousseff deu a entender que trocará Mantega se for reeleita. Se vencer, ela deve fazer isso imediatamente?
O ministro tem feito um esforço grande de aumentar a interlocução com empresários. A persistência desse relacionamento suavizaria essa troca no próximo governo.
Mas o novo ministro deve ser anunciado logo após o pleito?
Eventualmente, sim. Gosto do ministro Mantega. Agora, se for desejo dela [Dilma] que saia, então que, quanto antes nomeasse, melhor. Mesmo para ter transição tranquila. Daí já segue jogando. Mal não faz. Ajuda todo mundo.
O sr. sempre fala na flexibilização de leis trabalhistas. O que deve mudar?
O custo do emprego não pode ser o dobro. Você paga para o empregado X, você tem dois X de custo indireto.
O FGTS deve ser mantido ou eliminado?
Os direitos devem ser mantidos. O que tem que fazer é flexibilizar a lei trabalhista.
Como?
A jornada pode ser flexível. A gente tem uma hora de almoço. Normalmente, não precisa. Nos EUA, você vê o cara almoçando, comendo o sanduíche com a mão esquerda e operando a máquina com a direita. Tem 15 minutos para o almoço. Se o empregado se sente confortável em poder, eventualmente, diminuir esse tempo... por que a lei obriga?
O Congresso aprovaria?
Se for vontade dos empregados, por que não? Será que o pessoal gosta de ficar uma hora para almoçar, sendo que pode almoçar em meia hora e aproveitar para voltar antes para casa? Estou falando isso em benefício do empregado também.
Em quem o sr. vota para presidente?
Não sinto necessidade de revelar. Meu voto é a favor das mudanças. Se a presidente Dilma propuser mudanças com relação ao futuro do Brasil, ela tem chance de ter meu voto. Se a candidata Marina propuser mudanças, ela tem possibilidade do meu voto. Assim como o Aécio.
Em quem o sr. vai votar para governador de São Paulo?
Pela proximidade que tenho com ele, vou votar no Paulo [Skaf, do PMDB].
Se um empresário como o sr. revelar o voto no Brasil, pode sofrer perseguição?
Com certeza. Pode.
De que ordem?
De toda ordem.
Se disser que vota em Marina e ela perder a eleição, o sr. acha que poderia ser perseguido?
Acho que sim. O empresário brasileiro e o banqueiro são tremendamente dependentes do governo. Lá fora você não tem essa necessidade de ter a boa vontade do governo. Aqui, só o BNDES te dá financiamento de longo prazo com carência.
Em Brasília, o governo acha que sr. teria "marinado". O sr. sentiu em algum momento ter incomodado o governo?
O que eu disse é que a Marina é uma boa opção para o Brasil. Não vejo problema nisso. Agora, acho que também o Aécio é uma boa opção.
E Dilma?
A presidente também pode ser uma boa opção para o Brasil, atendendo certas mudanças que são necessárias. Falta uma semana [para a eleição], mas a gente está discutindo toda semana para ver se consegue um consenso.
Ou seja, o sr. pode "dilmar"?
Não sei em quem vou votar ainda. Posso até "dilmar". Desde que atendidas algumas mudanças que acho importantes. Não é por mim. Quero que a gente mude pelo Brasil.
O sr. pensa em ter alguma experiência no governo?
Em algum momento, a gente tem que retribuir o que a vida nos deu. Penso, sim, em algum momento fazer algum tipo de serviço público.
Aceitaria ser ministro?
Se pudesse ter certeza que os negócios estariam bem administrados, aceitaria, sim.