Folha de S. Paulo


Procuram-se doadores

Visitei nesta semana o Instituto Weizmann de Ciência (http://www.weizmann.ac.il/ ), uma universidade pública localizada em Rehovot, Israel. Uma das características que a difere das outras universidades é o fato de oferecer graduação e pós-graduação apenas em ciências.

Na visita, estávamos em um grupo de médicos brasileiros e outros profissionais ligados à saúde e saímos todos maravilhados com a estrutura da instituição, que é uma das líderes mundiais em produção científica.

Entre os seus pesquisadores está Ada Yonath, Prêmio Nobel de Química em 2009. Em 2011, a revista "The Scientist" classificou o Weizmann Institute como o melhor centro acadêmico para se trabalhar fora dos EUA.

Antes, já tínhamos visitado a Technion (universidade também focada em ciência e tecnologia, que está entre dez melhores do mundo) e outros hospitais nas três maiores cidades israelenses (Tel Aviv, Jerusalém e Haifa). Em todos os locais de pesquisa e desenvolvimento, dois fatos chamaram a atenção: a estreita parceria em quase todos os projetos com a iniciativa privada (as pesquisas são claramente direcionadas aos interesses da indústria) e as muitas doações de dinheiro feitas por pessoas físicas e jurídicas (locais e estrangeiros) aos hospitais e instituições de pesquisa.

Vou me ater ao último ponto porque foi inevitável pensar no que acontece hoje no Brasil. Empiricamente, sabemos que as doações a instituições de pesquisa são pífias. Por quê? Os ricos brasileiros preferem torrar a grana com outros fins? Há muita burocracia para a captação desse dinheiro? A cultura brasileira não favorece esse tipo de ação? Os brasileiros não confiam nas suas instituições e temem que o dinheiro seja usado para os outros fins senão o bem da ciência ou dos pacientes? Talvez um pouco de tudo e outras coisas que certamente deixei escapar.

Segundo estudo do CEAPG (Centro de Estudos em Administração Pública e Governo) da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, nem 10% da população brasileira faz doações formais a instituições (ligadas ou não à ciência e saúde).

Nas faculdades de medicina, as poucas doações que aparecem são personalizadas, ou seja, centradas na figura de algum médico que atua como professor da instituição. No Hospital das Clínicas, por exemplo, certos departamentos são ilhas de excelência graças a doações feitas pelos pacientes privados de médicos que lá atuam. Um exemplo é a urologia, comandada pelo professor Miguel Srougi.

Recentemente, o InCor (Instituto do Coração) resolveu profissionalizar as doações e ir direto ao ponto, pedindo claramente o que precisa. Na campanha "Padrinhos do Coração", o instituto faz um lista de materiais e equipamentos que necessita para uma nova ala e para modernizar outras já existentes. Exemplos:
- mobiliário da enfermaria e UTI pediátrica - R$ 400 mil
- monitor e bomba de infusão para ressonância magnética - R$ 200 mil
- aparelho de anestesia - R$ 200 mil
- troca de TV nos quartos de internação - R$ 50 mil. E assim por diante.

A iniciativa é inspirada em centros estrangeiros, onde esse tipo de cultura existe há décadas e deveria ser replicada por outras instituições brasileiras. Sempre com transparência e ética, é claro.

Os governos, sozinhos, jamais darão conta de atender a todas as necessidades do SUS. Acontece o mesmo em outros sistemas universais de saúde, como o inglês, o canadense e mesmo o israelense. Todos têm uma história longeva de beneméritos ajudando suas instituições. E vocês, o que pensam sobre isso?

A jornalista viajou a Israel a convite da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria


Endereço da página:

Links no texto: