Folha de S. Paulo


Lego sofre 1ª queda nas receitas em mais de 10 anos e anuncia demissões

Amon Borges/Folhapress
The Scream
Obra do artista Nathan Sawaya com peças de Lego que representa o quadro "O Grito", de Edvard Munch

A Lego iniciou uma reorganização de seus negócios e anunciou sua primeira queda de receita em mais de uma década, e 1.400 demissões.

Surgida logo depois da inesperada derrubada do presidente-executivo da empresa, no mês passado, a notícia sugere que a Lego está diante de seu maior desafio desde que chegou perto de um colapso financeiro em 2003-2004.

A receita da empresa caiu em 5% no primeiro semestre do ano, para 14,9 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 2,3 bilhões), o que pôs fim a praticamente 10 anos de crescimento anual da ordem de dois dígitos, em um período no qual a Lego se tornou a mais lucrativa fabricante de brinquedos do planeta, e a segunda maior empresa do setor em termos de faturamento.

O lucro operacional da companhia caiu em 6%, para 4,4 bilhões de coroas dinamarquesas, queda semelhante à do primeiro semestre de 2016.

A Lego vinha desafiando a gravidade, enquanto suas concorrentes sucumbiam à tendência de as crianças dedicarem mais tempo a brinquedos digitais do que a brinquedos físicos. Mas sob o comando de Bali Padda, derrubado da presidência-executiva da companhia em agosto depois de apenas oito meses no posto, a organização da Lego vinha se tornando cada vez mais complexa.

"Saímos da estrada um pouco e estamos ligeiramente atolados. Vamos precisar de um ou dois anos para recuperar a forma que desejamos ter. Mas não estamos em crise financeira, não precisamos reverter toda uma situação", disse Jorgen Vig Knudstorp, presidente do conselho da Lego.

Knudstorp, presidente-executivo da companhia até o fim do ano passado, disse que teve de "aprender humildade" e assumir parte da culpa. "Estou na empresa há 16 anos, e sempre houve altos e baixos. E esse é um grande baixo."

DEMISSÕES

A Lego cortará cerca de 8% de sua força de trabalho de 18,2 mil trabalhadores —um quadro de funcionários que triplicou de 2004 para cá. É o maior corte de pessoal que a companhia já anunciou.

A fabricante de brinquedos dinamarquesa chegou perto da falência em 2003 mas foi resgatada por Knudstorp, que colocou o grupo em um percurso notável de crescimento, por meio do sucesso de linhas de produtos como a Lego City e Star Wars.

Knudstorp atribui a alta no número de empregados da empresa nos últimos anos a um aumento da burocracia e à sobreposição de funções. "De repente, o consumidor, o comprador, o varejista, se vê um pouco longe demais do comando da empresa", ele disse.

VENDAS FRACAS

Especialistas externos dizem que ficou claro que a Lego está enfrentando problemas em suas operações mundiais, com vendas fracas nos Estados Unidos e Europa já há algum tempo e falta de sucesso em lançamentos de produtos recentes.

David Robertson, professor da Wharton School, disse, sobre a saída de Padda, que "a Lego é uma empresa muito orientada ao desempenho, e pode ser que ela tenha decidido que era hora de mudar e demitir a pessoa que esteve no comando de suas operações durante sua pior crise operacional, na década passada".

Knudstorp insistiu em que Padda, 61, que foi vice-presidente de operações da Lego antes de se tornar seu presidente-executivo, não foi derrubado por causa de seu desempenho, mas porque Niels Christiansen, que será o novo presidente-executivo da companhia, subitamente ficou disponível no mercado de trabalho, depois de renunciar à presidência executiva do grupo industrial dinamarquês Danfoss.

Knudstorp acrescentou que Padda havia liderado o trabalho sobre como restaurar o crescimento da Lego, e que Christiansen havia sido informado sobre o plano. "[O plano] criará uma plataforma para que [Christiansen] inicie sua jornada", disse Knudstorp.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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