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Atleta diz que ex-assessor de Paes pagou propina pela Olimpíada no Rio

Ricardo Moraes/Reuters
Brazilian Olympic Committee (COB) President Carlos Arthur Nuzman (C) arrives to Federal Police headquarters in Rio de Janeiro, Brazil September 5, 2017. REUTERS/Ricardo Moraes
Carlos Arthur Nuzman chega à sede da Polícia Federal no Rio para depor nesta terça-feira (5)

O atleta Eric Walther Maleson, ex-presidente da Confederação de Desportos no Gelo, afirmou em depoimento ao Ministério Público Francês que Ruy Cezar Miranda Reis, ex-assessor direto do ex-prefeito Eduardo Paes, disse a ele ter pago propina para comprar votos de membros africanos do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha da sede da Olimpíada de 2016.

Ruy Cezar ocupou o cargo de secretário extraordinário da Copa-14 e Rio-16 desde o início da primeira gestão Paes, em 2009. Ele ocupou o cargo até janeiro de 2013.

O Ministério Público Federal e o da França investigam um suposto suborno de Papa Massata Diack, filho do presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo, Lamine Diack, de US$ 2 milhões para votar em favor do Rio na escolha da sede para a Olimpíada de 2016.

Maleson se apresentou voluntariamente ao Ministério Público Francês para "testemunhar perante a justiça francesa de fatos relativos a compras de votações africanas pela estrutura que apoiava a candidatura da cidade do Rio para atribuição de organização dos jogos olímpicos do verão de 2016".

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 09/11/2016; Prefeito do Rio, Eduardo Paes da entrevista a Folha em seu gabinete na prefeitura. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, em seu antigo gabinete

"Durante o mês de julho de 2009, uma delegação brasileira, nomeadamente composta por Carlos Nuzman e Ruy Cesar Miranda Reis, ajudante dos esportes na Prefeitura do Rio de Janeiro, se tinha deslocado a Abuja (Nigéria) para apresentar a candidatura do Rio de Janeiro aos países africanos. Alguns meses mais tarde, quando se encontrava no Rio de Janeiro na companhia de Miguel Perez, secretário-geral da federação brasileira dos esportes de gelo, se tinha encontrado com Ruy Cesar Miranda Reis que lhe tinha indicado que o encontro se tinha passado bem e lhe tinha feito compreender que o dinheiro tinha sido pago", diz o depoimento do ex-atleta, de acordo com a Procuradoria.

É o terceiro ex-auxiliar de Paes citado na Lava Jato. O ex-secretário de Obras, Alexandre Pinto, foi preso há um mês, sob suspeita de cobrar propina em obras olímpicas. O ex-secretário de Ordem Pública e Assistência Social Rodrigo Bethlem também foi intimado a depor, sob suspeita de envolvimento com empresários de ônibus.

Operação Unfair Play
Polícia Federal investiga compra de votos para escolha do Rio como sede olímpica

Cezar ocupou a Secretaria Extraordinária para os Jogos Pan-Americanos de 2007 em toda a gestão de César Maia (DEM). Durante a eleição, porém, foi o primeiro secretário do ex-prefeito a apoiar Paes, o que gerou conflito com o antigo padrinho.

Eleito, Ruy Cezar foi o primeiro nome anunciado por Paes em seu secretariado.

O então assessor de Paes permaneceu por quatro anos no governo mesmo com pouquíssimas funções. A Secretaria Extraordinária para a Copa-14 e a Olimpíada-16, comandada por Ruy Cezar, foi mantida mesmo após a criação de outros órgãos para comandar a preparação da cidade para os Jogos, após eleita.

OUTRO LADO

O advogado que representa Nuzman, Sérgio Mazzillo, afirmou que seu cliente não cometeu ilegalidades e que o processo de disputa a sede das Olimpíadas não contou com compra de votos.

Ele alegou que ainda não teve acesso aos autos do processo e que não faria mais comentários.

"Não há fortes indícios de nada. Ele [Nuzman] falou que não atuou de maneira nenhuma irregular. Nada de errado foi feito na campanha. Nenhuma ilegalidade foi cometida pelo meu cliente. As explicações serão dadas", disse.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que está a par da operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (5) que tem Carlos Arthur Nuzman como um dos alvos e tem feito "todo o esforço possível" para obter mais informações e, então, considerar quais medidas tomará.

"O COI soube destas circunstâncias [da operação] por meio da imprensa e está fazendo todo o esforço possível para obter o máximo de informações. É do mais alto interesse do COI esclarecer este assunto", disse o comitê, por meio de nota.


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