Folha de S. Paulo


Procuradoria pede R$ 1 bi de Nuzman e investigados por danos morais

Ricardo Moraes/Reuters
Brazilian Olympic Committee (COB) President Carlos Arthur Nuzman (C) arrives to Federal Police headquarters in Rio de Janeiro, Brazil September 5, 2017. REUTERS/Ricardo Moraes
Carlos Arthur Nuzman chega à sede da Polícia Federal no Rio para depor nesta terça-feira (5)

O Ministério Público Federal pediu o bloqueio de R$ 1 bilhão dos investigados pela compra de votos do COI (Comitê Olímpico Internacional) para pagamento de danos morais coletivos.

São alvos do pedido o presidente do comitê organizador dos Jogos, Carlos Arthur Nuzman, e os empresários Arthur Menezes Soares, e Eliane Cavalcante. O MPF afirma que o pedido tem como objetivo reparar o dano à imagem do Brasil causado no mundo em razão do caso.

Operação Unfair Play
Polícia Federal investiga compra de votos para escolha do Rio como sede olímpica

"Isso manchou a imagem do Brasil no exterior. É um vexame em termos internacionais com um evento sediado a custo de propina e corrupção", disse o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio.

O Ministério Público Federal e o da França investigam um suposto suborno de Papa Massata Diack , filho do presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo, Lamine Diack, de US$ 2 milhões para votar em favor do Rio na escolha da sede para a Olimpíada de 2016.

A transferência foi feita numa conta usada, segundo o MPF, por doleiros do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para receber propina do empresário Arthur Soares, dono de fornecedoras de mão de obra que firmou R$ 3 bilhões em contratos com o Estado.

"Os Jogos Olímpicos foram usados como trampolim para atos de corrupção de dimensão olímpica", disse a procuradora Fabiana Schneider.

LIGAÇÃO BRASIL-FRANÇA

A investigação que resultou no mandado de busca e apreensão na residência de Carlos Arthur Nuzman, nesta terça-feira (5), começou em dezembro de 2015, na França. O presidente do COB e ex-presidente do Comitê Local da Olimpíada é investigado de participar de esquema de compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.

Em sua petição para realizar a operação, a procuradoria afirma que "há fortes indícios de que Carlos Arthur Nuzman teve participação direta nos atos de compra de votos para membros do COI na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e no repasse da vantagem indevida (propina) destinada a Sérgio Cabral e em enviada diretamente a Papa Massata Diack, por meio de Arthur Soares".

A ação da Polícia Federal brasileira contou com a colaboração do Ministério Público francês. Inicialmente, os procuradores franceses apuravam caso de doping no atletismo. Com o desdobramento da investigação, a Promotoria da França descobriu existência de um esquema de compra de votos na Olimpíadas do Rio.

A Justiça francesa acionou a Polícia Federal brasileira para cooperação na investigação.

O alvo incial do Ministério Público francês era Papa Diack, filho de Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). A família Diack encobriu durante anos esquema de doping envolvendo atletas russos.

Por conta da investigação sobre o doping dos atletas da Rússia, a Promotoria da França seguiu os passos de Papa Diack. Os procuradores descobriram outros esquemas envolvendo a família Diack, entre os quais o elo com Nuzman e Arthur Cesar de Menezes.

A revelação do caso foi feita na época pelo jornal "Le Monde".

Lalo de Almeida/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 27.07.2017: CARLOS-NUZMAN - O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, na sede da entidade no Rio de Janeiro. (Foto: Lalo de Almeida/Folhapress)
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, na sede da entidade, no Rio

Conforme apurou a Justiça francesa, três dias antes da eleição da escolha do Rio para sede da Olimpíada, em outubro de 2009, Papa Diack teria recebido US$ 1,5 milhão de "Rei Arthur", como é conhecido Arthur Cesar de Menezes Soares Filho.

Lamine Diack também era membro do Comitê Olímpico Internacional, tendo enorme influência entre os dirigentes africanos.

A propina foi enviada a Papa Diack por meio da Matlock Capital Group, um holding ligado a "Rei Arthur", localizado em paraíso fiscal. Posteriormente, houve repasse de US$ 500 mil da conta do empresário carioca para outra conta de Diack, desta vez situada na Rússia.

Lamine Diack foi afastado definitivamente do esporte e responde a processos por corrupção e lavagem de dinheiro.

A transferência do dinheiro foi feita através da Matlock Capital Group, uma holding com base nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal. Investigadores franceses apontam que a holding é ligada a Arthur Cesar de Menezes.

Reprodução
 Dono do Grupo Facility, o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho é investigado por procuradores da Operação Calicute, o braço fluminense da Operação Lava Jato.
O empresário Arthur Menezes de Soares, investigado pela Lava Jato no Rio, foi preso nesta terça (5)

A Justiça francesa suspeita que esse repasse tem ligação direta com a Rio-2016. O dinheiro foi endereçado a Papa Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). Papa e Lamine foram banidos do esporte após acusação de corrupção e lavagem de dinheiro em esquema de doping de atletas da Rússia. Lamine está preso na França.

O Blog do Juca Kfouri informou, em 2 de fevereiro, que a ex-empresa de "Rei Arthur" firmou negócios com o governo estadual na gestão Sérgio Cabral no valor de R$ 2,8 bilhões, divididos em 57 contratos com 19 órgãos.

Com documentos fornecidos por autoridades fiscais dos Estados Unidos, os investigadores franceses descobriram também que Papa Diack transferiu US$ 299.300 (R$ 943 mil) para uma companhia offshore chamada Yemli Limited no dia da eleição da escolha da sede dos Jogos Olímpicos.

Esta empresa, segundo o Le Monde, tem ligação com Frankie Fredericks. O ex-corredor da Namíbia foi um dos escrutinadores do Comitê Olímpico Internacional em Copenhague.

A disputa pela sede dos Jogos envolvia Rio de Janeiro, Chicago, Madri e Tóquio. Na primeira rodada de votação, Madri levou a melhor, com 28 votos, tendo Rio (26 votos), Tóquio (22 votos) e Chicago (18 votos). Na última rodada, a cidade carioca virou o jogo, batendo a cidade espanhola por 66 a 32 votos.

OUTRO LADO

O advogado que representa Nuzman, Sérgio Mazzillo, afirmou que seu cliente não cometeu ilegalidades e que o processo de disputa a sede das Olimpíadas não contou com compra de votos.

Ele alegou que ainda não teve acesso aos autos do processo e que não faria mais comentários.

"Não há fortes indícios de nada. Ele [Nuzman] falou que não atuou de maneira nenhuma irregular. Nada de errado foi feito na campanha. Nenhuma ilegalidade foi cometida pelo meu cliente. As explicações serão dadas", disse.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que está a par da operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (5) que tem Carlos Arthur Nuzman como um dos alvos e tem feito "todo o esforço possível" para obter mais informações e, então, considerar quais medidas tomará.

"O COI soube destas circunstâncias [da operação] por meio da imprensa e está fazendo todo o esforço possível para obter o máximo de informações. É do mais alto interesse do COI esclarecer este assunto", disse o comitê, por meio de nota.


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