Folha de S. Paulo


Indústria não pede favor ou subsídio, apenas crédito com taxas civilizadas

Silva Junior - 18.dez.14/Folhapress
SERTAOZINHO, SP, BRASIL, 18-12-2014. Operario na linha de producao de metalugica em Sertaozinho. Desde o início do ano, os dados de geração de emprego na região de Ribeirão Preto tiveram apenas desempenho negativo, com a queda consecutiva do número de vagas abertas. Em outubro, a região registrou o fechamento de 672 vagas de emprego. As indústrias, como as de Sertãozinho, foram as que registraram o maior fechamento de vagas. (Foto: Silva Junior/ Folhapress ) ***EXCLUSIVO FOLHA*** REGIONAIS
Operário na linha de produção de metalúrgica em Sertaozinho (SP)

Eis uma constatação que ninguém contesta: há uma extraordinária contenção do crédito na economia brasileira que está retardando a retomada do crescimento econômico.

Assustada com a crise e a inadimplência, a rede bancária, bastante centralizada, diga-se de passagem, passou a restringir como nunca a concessão de financiamentos corporativos.

Um cálculo da agência de classificação de riscos Fitch indica que, em razão da crise, a rede bancária brasileira reduziu de tal forma a liberação de créditos que acumulou um capital de cerca de R$ 300 bilhões além do mínimo recomentado pelas normas regulatórias.

Se cumprissem apenas essas normas, poderiam expandir a concessão de crédito num volume astronômico: R$ 2 trilhões.

Os quatro maiores bancos brasileiros encerraram o primeiro semestre com um saldo de financiamento de R$ 714 bilhões, valor que é cerca de 20% inferior, em termos reais, ao de dois anos atrás.

Não se trata aqui de crucificar os bancos. Eles enfrentaram durante dois anos, quando a recessão diminuiu a PIB em cerca de 7,5%, um aumento muito forte do índice de inadimplência das empresas, que passou de 0,4% no fim de 2014 para 1,1% no fim do ano passado.

É forçoso observar, porém, que são remotas as possibilidades de a economia sair da enrascada em que se meteu e retomar o crescimento sadio sem a volta da expansão do crédito. O crédito —com taxas de juros civilizadas, é bom lembrar— põe recursos na economia e estimula o investimento e o consumo.

Veja-se, por exemplo, o impacto positivo que teve a liberação de R$ 45 bilhões das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

O comércio voltou a crescer e a demandar mais produção industrial, a ponto de estabilizar o PIB —na sexta-feira (1º), o IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre, que teve uma ligeira expansão de 0,2%. Esse desempenho se deve principalmente à liberação do FGTS e, em parte, também à inflação baixa, que ajuda a recuperar um pouco o poder de compra dos assalariados.

Um oportuno estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou que 40% das empresas da indústria de transformação estão em situação financeira difícil.

Na prática, isso significa que, apesar da ligeira melhora da produção nos dois últimos trimestres, as empresas não conseguem gerar caixa suficiente para pagar suas despesas financeiras decorrentes das atuais taxas de juros, ainda em nível absurdamente alto. Ou seja, elas precisam de financiamento para capital de giro.

A proposta da CNI é que o BNDES, que tem recursos guardados de quase R$ 200 bilhões, ofereça, por meio de seu programa Progeren (para capital de giro), financiamentos que cubram integralmente as parcelas de dívidas a vencer nos próximos 12 meses e, frisa-se, sem subsídios adicionais de nenhuma ordem.

Para sustentar os empréstimos, as empresas poderiam oferecer recebíveis de clientes, imóveis e outros ativos, num novo sistema de garantias.

Essa medida daria fôlego às empresas pequenas, médias e grandes para que possam responder positivamente aos tênues sinais positivos que estão sendo dados pela economia. Além disso, estimularia a concorrência no sistema financeiro, ajudando os bancos privados a voltar ao jogo.

A indústria não pede favores ou subsídios. Pede apenas crédito com taxas civilizadas, para recuperar suas condições financeiras, o que não é pecado nem venial e pode ajudar o país a superar a peste recessiva que jogou no desemprego mais de 13 milhões de brasileiros.


Endereço da página: