Folha de S. Paulo


Seleção tem trabalho e método, e jogadores percebem isso

Filipe Luís falou duas vezes, na entrevista coletiva do último sábado, em Manaus, que a vida com Tite na seleção é diferente do que era. A primeira afirmação foi sobre a alegria dele e de Thiago Silva virem da Europa, mesmo quando a chance de jogar é pequena. Depois, disse que o processo de observação dos jogadores faz sentir-se valorizado. Atribuiu as duas coisas a Tite.

"Não é que não fosse assim antes", desconversou, ao ouvir a pergunta sobre como era com Dunga e Felipão.

O coordenador de seleções, Edu Gaspar, pretende deixar legado na CBF sobre a forma de trabalhar. Há um cronograma de trabalho detalhado, que inclui todos os membros da comissão técnica, todos os dias da semana.

Está tudo arquivado. Mostra que Tite e Edu Gaspar, por exemplo, foram pessoalmente ao treino do Real Madrid no dia 17 de fevereiro para avaliar Marcelo, Casemiro e Danilo, este nunca convocado.

Taffarel observou treinos de Diego Alves, no Valencia, assim como fez com Cássio e Vanderlei.

Editoria de Arte/Folhapress

Filipe Luís indicou quanto isso tem feito diferença ao afirmar como se sente observado. Ué... E não era assim antes?

A pergunta é essencial, mas a resposta é óbvia: não era. Não havia presença física próxima ao atleta, como hoje. Mesmo que Felipão e Dunga assistissem a todas as partidas pela televisão, a noção de justiça aumentou.

Nos 15 dias anteriores às convocações, sempre há visitas e conversas com jogadores. Nos 15 dias posteriores à chamada, reuniões de avaliação e mensagens para os atletas sobre os adversários a serem enfrentados. O relato de Filipe Luís indica que o atletas sentem-se parte do trabalho, como acontece em seus clubes.

Essa rotina, atualmente descrita em documentos no departamento de seleções da CBF, deveria existir há décadas, como imaginamos que aconteça na federação alemã, na espanhola, na italiana... Imaginamos.

Porque a Itália, hoje, parece uma bagunça. Eliminada na fase de grupos das últimas duas Copas do Mundo, está ameaçada de não ir ao Mundial, porque terá de disputar a repescagem, depois de levar 3 a 0 da Espanha, no sábado (2) à tarde. Há um ano, os italianos eliminaram os espanhóis nas oitavas de final da Eurocopa. Depois, trocaram o ascendente Antonio Conte pelo inexpressivo Giampiero Ventura.

A seleção agora tem trabalho e método. Só que a CBF perdeu dois anos com Dunga, o que atrasa a certeza de que o caminho é suficiente para ganhar a Copa, já em 2018. A Alemanha está em transição de elenco e de sistema tático. Desde a Copa das Confederações, joga no 3-4-3, variando para 5-4-1. Foi assim contra a República Tcheca, vitória aos 43 min do segundo tempo, com gol de cabeça de Hummels.

Tite não pretende copiar a forma de jogar de Joachim Löw, a mesma de Antonio Conte no Chelsea e ultimamente de Arsene Wenger, no Arsenal.

Pretende apenas ter variação tática para enfrentar as duas linhas defensivas, uma de cinco, outra de quatro homens. Nem todos jogam assim. A Espanha manteve o 4-3-3 e massacrou a Itália. A França joga no 4-4-1-1. A Argentina, no 3-4-3. Parecem ser os rivais mais fortes.

SAMPAOLI

Sob o comando de Jorge Sampaoli, a Argentina teve 73% de posse de bola e 95% de acerto de passes. Mas finalizou pouco. Dependeu ainda da genialidade de Messi para criar sua chance mais clara. A Argentina será mais forte do que era com Edgardo Bauza. Mas pagará o preço dos erros do passados.

TIME B

A Alemanha tem 17 jogadores disputando as eliminatórias europeias que foram campeões da Copa das Confederações. Significa que a seleção que venceu na Rússia não era o time B, mas a Alemanha desfalcada de Kroos, Hummels, Özil e Thomas Müller. Não é pouco. Mas time B é exagero.


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