Folha de S. Paulo


Cientistas produziram THC a partir da levedura -Agora vem a parte mais difícil

No começo do mês, pesquisadores da Universidade Técnica de Dortmund, na Alemanha, publicaram um artigo que detalha a bem sucedida tentativa de manipular geneticamente um fungo para produzir o princípio ativo da maconha, o THC.

Foi a realização do sonho que domina o imaginário dos maconheiros há mais de uma década.

A questão agora é se alguém conseguirá aumentar a escala dessa produção a ponto de tornar o THC sintético economicamente viável.

Como é o caso de muitos projetos inovadores de biologia sintética, os pesquisadores só conseguiram produzir uma quantidade mínima de THC.

É a mesma situação de estudos sobre a produção de biocombustíveis, de morfina e de outros compostos criados a partir de bactérias e fungos.

Sim, o maior problema é a escala. Grande parte dessas pesquisas é feita em universidades ou startups pequenas.

Uma dessas empresa é a Amyris, entidade californiana que abriu alguns laboratórios de biologia sintética no Brasil.

Em seus locais de análise e manipulação, a empresa já conseguiu produzir o esqualeno, um petrolato que costuma ser extraído do fígado de tubarões e é bastante usado em cosméticos.

"Começamos a produzir o esqualeno em uma escala de quilotoneladas, o que muda toda nossa ideia de matéria-prima", disse Jack Newman, co-fundador da Amyris, na última conferência da DARPA em Nova Iorque. "Agora que podemos reprogramar as células, somos capazes de criar matérias-primas muito melhores."

O objetivo é fazer o mesmo com o THC. Aperfeiçoar esses processos de bioengenharia é o principal objetivo da Hyasynth Bio, uma startup de Montreal, no Canadá, que sonha em algum dia comercializar THC e outros canabinóides produzidos a partir da levedura.

"Produzir mais THC é nosso grande desafio, nosso maior foco", me disse Kevin Chen, diretor da Hyasynth.

"As notícias sobre morfina produzida a partir da levedura causaram um rebuliço na mídia, mas seria preciso produzir uma quantidade 400.000 maior para que essa morfina pudesse ser inserida na indústria farmacêutica –a produção em larga escala é a parte mais desafiadora desse campo."

Chen disse que sua empresa planeja sintetizar o THC e outros canibinóides no fim do ano que vem, mas, como ocorre em muitos desses projetos, é difícil dizer quando –ou se– esse tipo de produto se tornará comercialmente viável.

Ele afirma que o trabalho dos pesquisadores alemães "esclareceu alguns dos desafios da produção do THC."

"Ainda estamos fazendo muitas pesquisas e experiências básicas e nosso objetivo ainda é o mesmo: produzir canabinóides a partir da levedura", disse.

Embora a própria maconha seja ótima fonte de THC e outros canabinóides, Chen diz que há muito espaço para um concorrente sintético.

Quando o segredo da produção em massa for desvendado, será possível, ao menos em teoria, manipular a quantidade de algumas substâncias químicas –como o canabidiol– presente no produto final.

Essa descoberta poderá dar origem à terapias mais eficazes e, digamos, baratos diferentes (ou até mesmo a um THC que não dê lombra nenhuma).

"As pessoas tendem a pensar mais sobre a natureza da planta do que sobre sua composição química", disse Chen. "Se você só fuma a planta, você está de certa forma limitado, pois existem muitas pesquisas a serem feitas sobre o efeito de diferentes canabinóides no corpo humano."

A ideia parece muito promissora, mas não recomendamos que você troque toda sua decoração temática de maconha por gravuras de células de levedura. Ainda não.

Tradução: Ananda Pieratti

Leia no site da Vice: Cientistas produziram THC a partir da levedura -Agora vem a parte mais difícil


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