Folha de S. Paulo


O nascimento do terapeuta digital

Vice

Há um ano decidi que faria meu mestrado em Nova York. Várias preocupações rondavam minha mente. Como eu faria amigos? Que lugar seria o meu refúgio? Será que eu teria coragem de andar de bicicleta por aí?

Mas a questão mais urgente, eu bem sabia, era encontrar um bom terapeuta.

Nos meses anteriores à grande mudança, viajei para Nova York várias vezes em busca do meu par ideal. Narrei minha infância e desilusões amorosas para uma série de estranhos. No fim escolhi um deles, um homem calmo e de olhos gentis. Depois de alguns meses de encontros, estava claro que não éramos feitos um para o outro. Terminamos.

Disse para mim mesma que encontraria um novo terapeuta. Revirei a lista de psicólogos do meu plano de saúde e dei uma olhada na Psychology Today. Alguns amigos tentaram me apresentar seus terapeutas; a busca não rendeu frutos e, no final do inverno, eu já estava pensando que talvez nem precisasse da terapia.

Foi então que, de repente, algumas Desgraças (com D maiúsculo) me atingiram e minha vida virou uma loucura.

Me martirizei por ter abandonado minha busca por terapeuta. Era por isso que eu queria fazer terapia - para ter uma fonte de segurança quando as coisas ficassem caóticas. Mas na época eu sentia como se estivesse segurando vários bibelôs. Temia que todos estivessem prestes a explodir em mil pedacinhos.

Eu estava sob o efeito dessa fragilidade quebradiça na manhã em que entrei no metrô e vi uma propaganda do Talkspace, alardeado como um "serviço de terapia por mensagens Ilimitadas, por apenas US$19 por semana". (Me sinto na obrigação de informar que o preço subiu para US$25 por semana.)

A terapia foi a última parte da nossa vida a entrar para o mundo digital. Nós já utilizamos a internet para comprar nossa comida, lavar nossa roupa, comprar sapatos e conseguir caronas. Para o novaiorquino que está sempre com pressa, poder concluir o próximo compromisso do dia com apenas alguns toques no celular é a forma perfeita de aproveitar os breves momentos de ócio do cotidiano.

Para mim, a terapia online me lembra um relacionamento digital. Você pode conversar com a outra pessoa no ônibus, na fila do banheiro,ou sem calças, deitado no chão de sua casa. Ambos dispensam grande parte do trabalho das relações presenciais: chegar em um local previamente escolhido no horário combinado, se preocupar com a primeira impressão e planejar uma cuidadosa manobra de saída. Se você não gostar do terapeuta que está te atendendo, é possível solicitar um novo, sem ter que olhar nos olhos gentis de ninguém.

Por todos esse motivos, a terapia por mensagem me pareceu um embuste, algo do qual desconfiei desde o princípio. Como ela poderia ser algo além de um paliativo, um substituto para a terapia real? Não gostava do fato de que os terapeutas e pacientes não se comunicariam necessariamente em tempo real - o fato de que meu diálogo poderia ser entremeado por longas pausas, assim como em uma troca de e-mails ou mensagens. Pensei sobre todas as possíveis falhas de comunicação que acontecem quando não podemos ver os olhos ou analisar a linguagem corporal do nosso interlocutor.

Ao mesmo tempo, eu estava desesperada por um pouco de atenção. Foi aí que decidi dar uma chance ao Talkspace.

US$25 POR SEMANA

O Talkspace é uma plataforma online que conecta terapeutas e pacientes. Seu carro-chefe é a terapia à distância, com mensagens ilimitadas por US$25 semanais. Para começar a terapia, os usuários precisam apenas cadastrar um e-mail. Não é preciso fornecer seu nome verdadeiro ou qualquer outra informação pessoal.

Além das mensagens terapêuticas, os usuários podem comprar sessões de terapia por vídeo de 30 minutos por US$29 ou participar de um fórum de terapia gratuito. No Dia dos Namorados desse ano, o Talkspace adicionou a opção de terapia de casal.

Desde seu lançamento, em 2012, o Talkspace já cadastrou mais de 200 terapeutas e mais de 100.000 usuários, contando com milhares de usuários pagantes. No começo de maio, a startup arrecadou US$9.5 milhões de capital de risco e alçou seu financiamento total para US$13 milhões.

Oren e Roni Frank, co-fundadores do Talkspace, decidiram criar a plataforma depois de salvarem seu casamento com uma terapia de casal. Depois das sessões presenciais, ambos ganharam um apreço enorme pela psicoterapia. O casal ficou chocado quando descobriu que a maioria das pessoas não pode pagar um terapeuta.

"A cada ano entre 40 e 50 milhões de americanos são encaminhados para a terapia", disse Oren Frank, atual presidente do Talkspace. "Dessas 40 ou 50 milhões de pessoas, em média apenas 6 ou 7 milhões realmente procuram um terapeuta."

Movidos pela consciência desse déficit, o casal decidiu levar a terapia para os que mais precisam - e é claro que a internet virou o ponto de partida.

O "ESPAÇO DE FALA"

Imediatamente após criar uma conta no Talkspace, o site me redirecionou até uma sala de bate-papo, onde fui apresentada a uma consultora. Ela disse que me ajudaria a encontrar o terapeuta ideal para minhas necessidades. (Aliás, a Talkspace anunciou recentemente que irá se unir com a IBM para usar o Watson, o computador inteligente da empresa, para auxiliar no processo de seleção de terapeutas.)

Conversamos por algum tempo sobre o que estava me incomodando e sobre o que eu procurava em um terapeuta. Depois de meia hora, ela se ofereceu para me explicar como o Talkspace funciona. Meu terapeuta e eu conversaríamos em um chat privado - um "espaço de fala"- onde eu poderia despejar todas minhas angústias.

O fato de eu ter um espaço só meu me alegrou. Na minha mente, o chat tomou a forma de um quarto vazio com paredes impecavelmente brancas. E eu podia entrar nele para rabiscar meus pensamentos na parede sempre que quisesse.

TERMOS E CONDIÇÕES

O Talkspace é uma novidade na indústria de terapia online. A plataforma é diferente de seus predecessores, que costumavam juntar módulos motivacionais e suporte terapêutico.

Essas terapias modulares, como são conhecidas, costumam cobrir um período de dois meses. Nesse tempo, o paciente recebe aulas semanais de cerca de 30 minutos que misturam textos e ferramentas multimídia. Ao final de cada módulo o paciente faz o acompanhamento com um terapeuta, seja por mensagem, por vídeo ou por telefone.

Essa terapias digitais têm como base uma abordagem terapêutica chamada terapia cognitiva comportamental. Desenvolvida em 1960 como uma alternativa mais engajada à psicoanálise freudiana, a terapia cognitiva comportamental tem como objetivo ensinar os pacientes a identificar e eliminar seus próprios padrões de pensamentos negativos. A abordagem sugere diferentes tratamentos para diferentes distúrbios, todos eles criados segundo experiências científicas.

"A TCC é muito prática, o que nos permite criar esses módulos e mini-aulas", disse Marina Gershkovich, uma candidata a PhD em psicologia na Universidade Drexel que pesquisa e desenvolve tratamentos online para distúrbios de ansiedade.

Grande parte da pesquisa acadêmica sobre terapias digitais tem como foco essas terapias modulares. Na última década, estudos revelaram que a terapia online pode curar uma grande gama de distúrbios, incluindo a depressão, a ansiedade, o transtorno de estresse pós-traumático, o transtorno obssessivo-compulsivo e a síndrome do pânico.

Como a TCC almeja aumentar a independência emocional do paciente, a abordagem pode ser facilmente aplicada à terapia online. "A grande missão da TCC é transformar o paciente no seu próprio terapeuta, dar a ele todas as ferramentas para que ele se cuide sozinho", disse Gershkovic. Em certo nível, o objetivo da TCC é se tornar obsoleta.

O Talkspace segue outra abordagem. Em vez de distanciar a relação entre terapeuta e cliente, a plataforma oferece uma relação ilimitada com seu terapeuta - a oportunidade de tê-lo literalmente na palma da sua mão. Além disso, a plataforma não segue nenhuma vertente de psicoterapia, deixando a qualidade e estilo da terapia nas mãos de cada profissional. Se as terapias modulares valorizam o progresso dos pacientes acima de tudo, o Talkspace parece ter a relação entre terapeuta e cliente como foco.

A empresa ressalta em seus termos de uso que o Talkspace não é um serviço de terapia, mas sim "uma plataforma que conecta clientes e terapeutas". "Nós não nos responsabilizamos pela possível natureza dessa interação, tampouco por qualquer parte do serviço de terapia oferecido", decreta a empresa.

Os termos afirmam categoricamente que o Talkspace não tem a obrigação de checar a qualificação dos terapeutas."Emboras façamos uma pesquisa e verifiquemos certos documentos dos terapeutas cadastrados no site, não garantimos a verificação de diplomas médicos, qualificações, licenças, certificação, credenciais, competência ou antecedentes de nenhum dos terapeutas", diz o texto.

Entretanto, Oren Frank me assegurou que os terapeutas cadastrados no Talkspace passam por um processo de seleção rigoroso, que envolve a checagem de antecedentes e licenças, entrevistas clínicas, treinamento técnico e uma simulação de tratamento que dura uma ou duas semanas.

Os terapeutas têm que passar por um amplo treinamento, no qual aprendem as regras do Talkspace e a usar a plataforma, disse Christy Paul, uma especialista em saúde mental que entrou no Talkspace há dois anos e hoje trabalha na plataforma em tempo integral. Ela me disse que o processo dura cerca de um mês.

O Talkspace não recomenda uma única abordagem a seus terapeutas associados, disse Paul. Ela acredita que usar várias abordagens é a melhor estratégia para os terapeutas do Talkspace. "Nosso foco é o cliente, então a abordagem é personalizada", disse. "A melhor opção é integrar várias técnicas."

Conversei com cinco pesquisadores que estudam a eficiência da terapia online, e todos só conheciam o Talkspace de passagem. A maior parte das pesquisas trabalham com abordagens mais estruturadas e prescritivas do que a do Talkspace, segundo me foi dito.

Esses pesquisadores que estudam terapias modulares veem a terapia online como parte de um modelo de terapia agrupado, que pode atender pacientes com diferentes necessidades.

"A terapia online funciona muito bem dentro do que chamamos de modelo de terapia em etapas", disse Nicole Pugh, uma psicoterapeuta e diretora de pesquisa do Centro de Saúde de Vancouver, no Canadá.

Nesse modelo, ela explica, a terapia online é indicada para os pacientes que não sofrem de distúrbios sérios, mas ainda precisam de acompanhamento. Já os pacientes com problemas mais graves podem fazer terapia online com algum acompanhamento extra. E pacientes que sofrem de vários distúrbios mais graves são candidatos à terapia convencional.

A terapia modular tende a agir como um complemento da terapia convencional, e não um substituto, disse Pugh, que coordena o programa de terapia online do Centro de Saúde de Vancouver.

Muitos dos especialistas com quem falei afirmaram que a terapia modular online compartilha várias características com a auto-ajuda. "No final o que importa é a sua motivação - seu nível de força de vontade", disse Michelle Newman, uma professora de psicologia da Penn State.

Oren Frank afirma categoricamente que esse não é o caso do Talkspace. "Nós não oferecemos coaching, ou vendemos conselhos, muito menos servimos com um grupo de apoio", ele disse. "Nós oferecemos terapia. Não auto-ajuda."

Frank acredita que a relação individual entre terapeuta e paciente é mais importante do que a abordagem clínica utilizada.

"Acredito que a palavra 'terapia' é intercambiável com a palavra 'terapeuta', e que a habilidade de criar um ligação ou relacionamento profundo com o paciente é essencial para qualquer profissional", disse. O Talkspace dá toda a liberdade para que os terapeutas estabeleçam essas relações.

UM ESPÍRITO BENÉVOLO

Depois de trocarmos mensagens por duas semanas, decidi que gostava do terapeuta que a consultora havia me indicado. Seu perfil dizia que ele era um assistente social; além disso, sua metodologia era pragmática, o que trouxe algum conforto para minha vida caótica.

Juntos, delimitamos metas e criamos um calendário. Quando eu mandava mensagens confusas e emotivas, ele raramente tentava questioná-las ou analisar as entrelinhas. Meu terapeuta regurgitava um resumo do que eu havia dito e perguntava se havia entendido tudo direito (mais tarde eu descobriria que essa é uma estratégia que os terapeutas digitais usam para ter certeza de que estão entendendo tudo corretamente).

Em momentos anteriores, eu havia me interessado por abordagens mais livres e não-tradicionais, mas por algum motivo a praticidade do terapeuta do Talkspace não me incomodava. Talvez minhas expectativas fossem diferentes - eu não esperava que ele reformulasse meu cérebro. De certa forma, era um alívio me focar em formas práticas de me cuidar em vez de mergulhar constantemente nas profundezas da minha psique.

Eu me sentia muito próxima do meu terapeuta digital, mas não de um jeito vulnerável. Talvez eu nunca tenha pensado nele como uma pessoa de verdade. Ele era mais como um espírito benévolo ou um anjo da guarda - alguém cuja presença me tranquilizava, mas que nunca tomava uma forma física.

Em comparação à terapia convencional, a experiência digital tem algumas vantagens. Digitar meus sentimentos me obrigava a resumí-los e digerí-los. Eu podia organizar meus pensamentos sem ser distraída por um par de olhos que me encaram e anotam tudo que eu falo. Eu também gostava da possibilidade de reler nossas conversas antigas.

Mas também havia algumas desvantagens. A maioria das conversas com meu terapeuta não acontecia em tempo real, o que significa que uma conversa que duraria meia hora na vida real poderia demorar um ou dois dias na internet. Por causa desse ritmo quebrado, eu muitas vezes perdia minha linha de raciocínio. Além disso, eu sentia vontade de expressar ideias má-formadas e deficientes, sem sentir nenhuma necessidade de editá-las e ordená-las de uma forma linear.

A DEMOCRATIZAÇÃO DA TERAPIA

Um dos maiores argumentos a favor da terapia online é o fato dela democratizar a terapia. Ela remove várias barreiras, como o transporte, a espera, o custo e arranjar tempo para as sessões mudando os horários de trabalho ou atrasando outros afazeres, disse Nick Titov, um professor de psicologia na Universidade Macquarie em Sydney, na Austrália, e diretor da Clínica MindSpot, um serviço de terapia por telefone.

Além do mais, muitas pessoas vivem longe de qualquer profissional de saúde mental, o que dificulta o acesso a qualquer tipo de terapia.

A terapia online pode até atrair uma clientela que não se interessa pela terapia convencional, afirma Titov. "Precisamos ter em mente que muitas dessas pessoas não querem falar com um terapeuta", disse. "Não podemos obrigar os pacientes a nos procurar e temos que ser realistas quanto a isso."

Titov afirma já ter visto a terapia online funcionar como uma introdução à terapia convencional. Um paciente com algum tipo de fobia social, por exemplo, pode recusar um tratamento convencional num primeiro momento, mas mudar de ideia depois de algum tempo de terapia online.

Veja vídeo

No entanto, a terapia online pode funcionar melhor para alguns pacientes do que para outros, e para algumas pessoas - como as que sofrem de psicose ou possuem uma visão distorcida da realidade - essa forma de terapia pode até ser prejudicial.

"É claro que esse não seria o tratamento adequado para clientes com distúrbios mais severos, como o transtorno de personalidade limítrofe", disse Michael Gordon, um professor assistente de psicologia clínica no Trinity College em Dublin, na Irlanda. Para esses pacientes, de acordo com Gordon, a troca de mensagens pode ser utilizada em conjunto com a terapia tradicional, servindo apenas como um complemento do tratamento principal.

Qualquer plataforma de terapia online precisa de mecanismos criados para identificar situações perigosas, de acordo com Drexel Gershkovich. "A severidade do distúrbio é um fator importante", ela disse. "Quando você está lidando com pessoas deprimidas, é preciso avaliar os riscos de suicídio. Se esse risco existir, é necessário tomar mais cuidado com esse paciente."

Todos os programas de terapia online pesquisados pelas minha fontes fazem uma série de testes para ter certeza de que os pacientes recebam a ajuda apropriada, sobretudo em casos de risco.

No final de cada página do site, o Talkspace apresenta o seguinte aviso: "caso você esteja em uma situação extrema, NÃO use este site. Ligue para o Instituto de Prevenção do Suicídio, um serviço disponível 24 horas, no número 1.800.273.8255."

Durante minha temporada no Talkspace, no entanto, nenhum profissional me perguntou se eu já havia pensado em suicídio. Meu histórico médico nunca foi solicitado. Nunca pensei em suicídio - mas eu não podia deixar de pensar que, mesmo que tivesse cogitado, meu terapeuta nunca tocaria no assunto.

Quando questionei Oren Frank sobre o assunto, ele me disse que a decisão de falar ou não sobre suicídio com seus pacientes fica a critério dos terapeutas. Ele acredita que os profissionais do Talkspace têm experiência o bastante para reconhecer alguém com pensamentos suicidas.

Caso um terapeuta do Talkspace perceba que um cliente está tendo pensamentos suicidas ou se auto-flagelando, ele deve encaminhar o mesmo para um psiquiatra ou para a emergência de um hospital, afirmou Frank. "Nós não resolvemos questões psiquiátricas", ele disse.

Frank sugeriu que o meu terapeuta não havia levantado o tópico do suicídio porque eu não havia dado nenhum sinal preocupante. "Existe uma diferença entre a sugestão de ideias suicidas e um comportamento de fato suicida", ele disse. "Esses profissionais são treinados para saber a diferença."

Christy Paul concordou que os terapeutas são capazes de compreender as intenções suicidas de seus clientes. "Eles geralmente verbalizam esses pensamentos, mas caso isso não aconteça, nós reconhecemos os sinais presentes no que eles dizem ou nas circunstâncias do momento", ela disse.

Embora os terapeutas do Talkspace não peçam o histórico médico ou psiquiátrico de seus pacientes no começo do atendimento, como um terapeuta de carne e osso faria, esse tipo de informação tende a ganhar importância durante o curso da terapia digital, explica Paul.

Como as interações no Talkspace seguem outro ritmo, essa informação pode vir à tona mais lentamente. Mas o resultado final, insiste Paul, não é tão diferente.

"Na terapia convencional, o cliente passa as primeiras horas do processo dando todo esse tipo de informação", ele disse. "Nos empenhamos para construir uma relação com nossos clientes. E ao fazer isso, conseguimos todas essas informações."

O risco de suicídio é um tema importante na terapia online, reconheceu Titov - mas ele fez questão de acrescentar que existe um risco semelhante na auto-ajuda.

Titov acredita que o sucesso dessas terapias online depende da força de vontade do próprio paciente. Se uma pessoa está sofrendo mas determinada a mudar, a terapia online pode ajudá-la a completar essa mudança.

"Muitas pesquisas mostram que a apresentação desse conteúdo não importa, que não há diferença entre um tratamento convencional e um digital", disse Titov. "Se as ideias apresentadas forem construtivas e válidas, os pacientes podem melhorar."

Esse crescente número de pesquisas tem desafiado a crença de que a terapia presencial é algo necessário, disse Titov. Além disso, o crescimento da terapia digital está tirando o foco dos terapeutas e o trazendo de volta para os pacientes.

"A tecnologia nos forçou a questionar os paradigmas e as heurísticas da psicoterapia interpessoal", ele disse. "A realidade é que cada semana tem 168 horas - uma hora de terapia não terá um grande impacto no paciente. O que realmente importa é o que ele aprende e aplica em sua vida."

A terapia online é uma novidade e, como tal, é natural que ela inspire dúvidas. "Essa é uma profissão muito tradicional. Ela foi criada há cerca de 150 anos e não mudou muito desde então", disse Frank.

"Algumas pessoas dizem que isso não é terapia de verdade, que essa interação não se compara a um tratamento presencial", disse Frank. "Posso afirmar que, depois de alguns anos no comando da empresa, coordenando centenas de terapeutas - todos eles veteranos na terapia tradicional - tenho certeza de que isso não é verdade."

Frank acredita piamente que a terapia online não é uma versão barata da terapia presencial. "Ela é, de certa forma, surpreendentemente semelhante à terapia tradicional", afirmou. "A diferença é que ela é feita por meio de mensagens."

Na verdade, a grande diferença entre o Talkspace e a terapia presencial é, na opinião de Frank, a maior acessibilidade do Talkspace. "Amamos a terapia tradicional", ele disse. "Nosso objetivo não é substituí-la, combatê-la ou dizer que é uma ferramente ultrapassada. A psicologia é um ramo maravilhoso. O problema é que a terapia é um produto elitizado. Nem todo mundo pode arcar com os custos de um tratamento."

CARA A CARA

Na minha experiência, o argumento de que o Talkspace é mais flexível - e portanto mais acessível - é correto. Durante um semestre alucinado, quando o processo de procurar um terapeuta parecia impossível, o Talkspace me deu, de forma rápida e simples, o apoio que eu tanto precisava.

Mas conforme meu semestre seguia, fui soterrada por trabalhos e minha empolgação com a terapia online desapareceu. Comecei a falar cada vez menos com meu terapeuta. Depois de um tempo, era sempre ele que iniciava o diálogo.

Assim como qualquer forma de comunicação digital, a terapia à distância é fácil de ignorar. Durante períodos atribulados, eu ignorava as notificações que enchiam meu celular e minha caixa de e-mails. Eu me sentia culpada por evitar o Talkspace, mas nem de perto tão culpada quanto eu costumava me sentir toda vez que matava uma consulta com meu terapeuta de carne e osso.

Depois de dois meses, eu estava tão desinteressada que pagar pelos serviços do Talkspace não valia mais a pena.

"Terapia para os tempos modernos", anuncia o lema da empresa. O problema é: e se eu não gostar do que o Talkspace tem a falar sobre os tempos modernos?

A terapia é uma jornada trabalhosa e eu nem sempre tenho ânimo para seguir em frente. Por mais que eu tente priorizar minha saúde mental, é difícil fazer isso quando sua sanidade é posta lado a lado de um prazo infernizante ou de um compromisso social perturbador.

É claro que eu poderia ter marcado um encontro semanal com meu terapeuta do Talkspace. Ele sugeriu que conversássemos pelo Skype ou por telefone, e a nossa única conversa por telefone foi extremamente produtiva. Mas eu já não tinha mais a mesma dedicação. Podem me chamar de antiquada, mas encontrar outro humano no mesmo horário toda semana me inspira uma certa lealdade.

Na terapia convencional, não importa o quanto eu tenha a dizer; sou sempre obrigada a sentar com outra pessoa, cara a cara, por 45 minutos. Às vezes eu ia para a consulta pensando que não tinha nada para falar, e acabava falando durante toda a sessão. Talvez o simples ato de sentar naquele sofá tão familiar trazia sentimentos que eu nem sabia possuir.

No Talkspace, eu não podia parar tudo e sentar em um sofá - quando eu não tinha nada para dizer, penas seguia com meu dia. Pode até parecer contraditório, mas saber que podia iniciar um diálogo com meu terapeuta a qualquer instante me fez ter menos vontade de compartilhar meus pensamentos.

Meu semestre enlouquecedor terminou há algumas semanas. Agora que tenho mais tempo livre, voltei a pensar na terapia. Nesse verão, assim como no último, irei procurar um novo terapeuta do jeito tradicional.

Encontrar um terapeuta é uma jornada longa, imperfeita e cansativa. Mas ela vale a pena, pelo menos para mim. O Talkspace foi, por um tempo, um ótimo companheiro; o problema é que eu estou procurando algo que exija um pouco mais de seriedade.

Assim como em todo relacionamento construtivo, a terapia também requer comprometimento. Isso significa que às vezes terei que ir até um local previamente escolhido no horário combinado, mesmo que não esteja no clima. Às vezes serei obrigada a olhar alguém nos olhos, mesmo que isso me deixe desconfortável. E às vezes me forçarei a sentar naquele sofá, mesmo que em silêncio.

Traduzido por ANANDA PIERATTI


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