O presidente Michel Temer saiu vitorioso na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (2), depois de obter número de votos suficiente para barrar a denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República.
Nem por isso ele terá vida fácil daqui para a frente. "Não foi surpresa para ninguém, mas a vitória é a crônica de uma sobrevida anunciada", analisou o cientista político Marcus Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, em debate promovido pela "TV Folha" na noite desta quarta, logo após a decisão da Câmara.
O repórter especial da Folha Mario Cesar Carvalho lembrou que há "ao menos duas bombas certas" contra o presidente, citando as delações premiadas do doleiro Lucio Funaro e do ex-deputado Eduardo Cunha. "Deve ser um final de governo dramático", afirmou.
Os convidados acrescentaram que uma hipótese provável é que denúncias contra Temer "desçam" para a Justiça Federal no Paraná quando ele perder o foro privilegiado. "Esse é o grande desespero de Temer no futuro, tem-se a impressão que o juiz Sergio Moro julgaria as questões de forma muito célere", disse Carvalho.
Para Melo, o presidente ainda vai "acumular vulnerabilidades e gastar muita energia e capital político nisso".
Ao falar sobre o risco de o procurador-geral Rodrigo Janot ter "queimado seu principal cartucho" contra o presidente agora, Igor Gielow, repórter especial do jornal também presente no debate, afirmou que "talvez tenhamos chegado a um ponto de inflexão".
"A partir de agora, em novas denúncias, pelo que parece, o que vai contar mais é o corporativismo do Congresso –e Temer mostrou resiliência e habilidade impressionantes para dialogar com os deputados."
Para Melo, também ficou a sensação de que o Congresso foi movido pelo sentimento de cumplicidade do medo que a Operação Lava Jato causa nos parlamentares.